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quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Quando os morros caem


Foto do Informe Blumenau, de 2015
Esse foi de 2015, para o Willy e para a Irene. Não manjo dos paranauês, então só larguei uns três acordes ali, provavelmente teria que arrumar e arranjar direito, mas enfim, pra atualizar esse rincão aqui.

Quando os morros caem
Para Irene e Willy

(A7 E)

E        B7    A7
Quando o rio chamou
        E
O morro respondeu
        B7    A7
Quando o rio clamou
        E
O morro atendeu
        B7    A7
O morro rachou
          E
E o rio correu
            B7    A7
Por onde nunca andou
        E
Por onde escolheu
        B7         A7            E7
E nada restou (nada restou), só você e eu
        B7         A7            E
E nada restou (nada restou), só você e eu
E        B7    A7
Meu cachorro cego
    E
Rio levou
        B7    A7
O meu carro velho
         E
Rio carregou
        B7    A7
Quando o rio correu
    E
assoreou
B7              A7            E
//: Meu peito, meu chão; casa e refrão; canto e violão:\\
B7         A7        E
Peito, chão; violão
B7         A7        (A7 E)
Peito, chão

quarta-feira, 8 de maio de 2019

O Paraízo-Paraguay de Marcelo Labes


 



Um legado é uma semente guardada em uma caixa de madeira.
Um olhar sobre o Paraízo-Paraguay de Marcelo Labes.

Paraízo-Paraguay chega como a obra de estreia da Caiaponte Edições, capitaneada pelo próprio autor do livro, Marcelo Labes. Nascida pelo financiamento coletivo on-line, sob a égide da contemporaneidade, resta ainda ver os próximos passos da editora, que promete ao menos mais duas obras. Quanto a esta inicial, a primeira do autor em forma de romance, a edição não deixa nada a desejar. Uma obra bem acabada, de composição elegante. A capa em tons quase sépia traz as ruínas da Igreja de Humaytá e assim já introduz o tom do livro. Um tom que, apesar da novidade da prosa mais extensa do autor, mantém ainda ecos dos versos de trabalhos anteriores de Labes. E o mesmo olhar sobre um vale úmido, cheio de memórias que se pegam às paredes (e pessoas) feito bolor.

Uma história de vergonhas de uma guerra da qual já não se lembra, de lembranças de um passado celebrado que não se viveu. Legados recriados para encobrir destroços que deixamos. O Paraízo-Paraguay de Marcelo Labes é repleto deles. Que se sobrepõem saturando as cenas e os personagens, até precipitarem-se feito chuva pelas encostas do vale, carcomendo a terra, criando valas, expondo vazios que, quando encarados, refletem na vala cheia de água o rosto de quem observa.

Paraízo-Paraguay nos conta a saga de uma família — a seu modo — desde a geração que chegou na Colônia de Blumenau não muito após a chegada dos primeiros colonizadores. Um olhar diverso do mito hegemônico da colonização germânica nas colônias do sul do Brasil. O mito, claro está, do puro e intrépido desbravador branco, batalhador, que dobra à sua vontade a natureza de uma terra selvagem, feito o Crusoé de Defoe. E como o próprio Crusoé, o ideário do colonizador europeu subjugando a nova terra e seus selvagens. Uma memória imaginada e reimaginada até virar História.

O romance exorciza, talvez, alguns destes demônios ao colocá-los à luz. O faz, primeiramente, nos levando junto aos praças forçosamente recrutados para ir combater pelo Brasil na Guerra do Paraguai, para saldar a cota de homens do administrador da Colônia. Alemães e brasileiros lado a lado. Alemães que negavam a brasilidade na qual estavam enfurnados. Como estavam, feito os brasileiros, enfurnados igualmente entre os mesmos morros, entre as mesmas plantas e animais, entre as mesmas valas na mesma terra. Saudosos de uma Alemanha d'além mar que ainda viam como sua. Uma saudade, parece, incurável; ainda que a língua alemã talvez não a possa traduzir à perfeição.

Paraízo-Paraguay escancara essas feridas e lembra das cicatrizes que escondemos entre as dobras de nossos morros. Lembra também os nosso vários flertes com o fascismo e alguns dos preços que pagamos e, certamente, nos esquecemos.

Resgata sobretudo a atração quase mística de um legado. Seja de um passado pintado glorioso no Velho Mundo, seja perambulando pelas docas da velha Itajahy atrás de redenção,  ou nas buscas para lá da fronteira paraguaia. Seja enterrado no nosso próprio quintal.

Para cada legado de administrador de colônia nas ruas principais, igrejas e registros oficiais, um sem-fim de outros legados serpenteia às margens do Itajaí-Açu. É quando ele transborda que todos se misturam. E Labes soube observar — e retratar — as marcas que deixam no lodo.

sábado, 6 de abril de 2019

Para sempre rio



Foto de Angelina Wittmann
Para sempre rio

De manhã cedinho o sol não chegava a tocar o chão da floresta, que dormia sob seu dossel de copas orvalhadas. O velho pisava macio, pés descalços, para não acordar a mata. Já desperto há algumas horas, sorria vendo o dia clarear. De um lado a montanha esticava o pescoço a quase mil metros para espiar o nascente, do outro o assobiar do rio num chamado que acostumara ouvir desde muito.

Fora há mais de meio século que o rio vira o velho pela primeira vez. Ainda um rapazote imberbe, sem rugas, trejeitos ou  as histórias que agora tanto cativavam as águas. Mas fora o suficiente para o rio se enamorar.

Cada vez que as pernas magras lhe penetravam o leito, o rio se contorcia em júbilo, lambendo-lhe as panturilhas, envolvendo-lhe em seus recantos. Mas logo o visitante ouvia o chamado da mata, de algum vizinho ou do fogão de chapa a crepitar em algum lugar. E o rio saudoso ficava ali, só lágrimas a correr por aqueles vales do sul.

Veio o tempo e com o seu condão transformou o menino em velho, arbusto em árvore, semente em planta. Só o rio continuava rio. Melancólico, saudoso e fluido, sempre a assobiar quando via o velho passar. Ao velho cresceu uma barba longa e prateada, que lhe cascateava queixo abaixo feito corrente brilhante à luz do sol. O rio se enamorou ainda mais.

Uma noite, saudoso, o rio não suportou e se ergueu do leito para procurar o velho. Chegou ao terreno, espiou a casa, mas não teve coragem de entrar. Chamou e esperou, mas o velho dormia, as barbas sobre o peito entre as paredes de madeira.

A gente da cidade não gostou do que viu:

— Rio assanhado, onde já se viu!?

Trouxeram uma máquina acordando a mata e construíram um muro para dar ao rio uma lição.

— É assim que se põe um rio nos prumos — disse o prefeitinho orgulhos.

O velho, de longe, trocando olhares com as águas, que espiavam lá do canto do seu cercado, feito criança que aprontou.

Mas a saudade, quando vem em ondas, não tem mar que aplaque, não há rio que aguente. Um dia, pouco antes do velho levantar, o rio se pôs a chamar. Foi tal a comoção que até o morro desceu para ver o que ocorria. E viu um rio que já não se continha. Sem resposta, o rio achou por bem bater à porta. Mas a emoção, em vagas, se transborda. E o rio pulou o muro e correu como nunca correra. Sem ligar para o que havia em frente veio tropeçando e saltando e arrastando o que via no caminho. A vizinhança assustada correu em debandada. O vizinho, o cachorro, o velho e quem mais podia. O rio alvorotado bateu à porta com tanta força que lhe arrancou dos batentes. Espiou à janela e a despedaçou. Procurou em cada canto e não encontrou o que tanto procurava. Nem velho nem paz para um coração turbilhante. Levou ainda, como lembrança, algumas coisas para embalar a saudade, enquanto na noite chorava a falta do velho que não encontrara.

Mas o que quer que carregasse, nada supria uma paixão de infância que ainda urgia. Logo o rio se cansou e devolveu às margens tudo o que pegou. Passou as noites a correr pelo vale em busca do velho. Pensando nas barbas caudalosas como um leito para se aninhar.

O tempo passou, o rio chorou, mas não cessou de chamar. Até  que um dia, de repente, sentiu o peito borbulhar.

— É o velho! É o velho quem vem lá!

O rio se ergueu e se pôs a chamar. Encontrou o velho na antiga ponte onde volta e meia o via passear. O rio, arrebatado, mal podia se conter. O velho lhe sorriu e sentou-se para conversar, as pernas pendendo da ponta, a cascata de barbas pendendo do queixo, a cara estampada com aquela vida encravada naquela senda do sul da cidade, entre morros, matas e o rio. O rio se animou caudaloso, as emoções lhe transbordando as margens.

Quem mais tarde cruzou pela ponte se assustou com um corpo de bruços embalado pelas marolas que ululavam numa canção de ninar. Apressado, o visitante saltou à água e, com a corrente pela cintura, tentou desvirar o velho. À primeira tentativa, o peso impediu a manobra, era como se algo agarrasse-se ao peito do homem tombado. Uma nova investida e o recém-chegado conseguiu desvirar o velho, caindo ele, por sua vez, sentado na água. Foi quando viu, saltando do rio, como se saído do peito do homem, uma carpa avermelhada, tão rara por aquelas bandas. Quando caiu novamente na água, o tremular da corrente lhe dava um aspecto pulsante e, mesmo ao lusco-fusco do fim do dia, era como se a sua cor emanasse uma luminosidade brilhante enquanto o peixe nadava contra a corrente, rio acima, pulsando em vermelho. Tudo ocorreu rápido e, tão logo quanto pôde, o homem já estava com o velho nos braços, agora tão leve, quase como se estivesse vazio. Lá longe, rio acima, ainda podia ver um ponto vermelho pulsando no escuro, enquanto ao seu lado centenas de pontos brancos se revelavam de ambas as margens, com flores alvas se abrindo, uma a uma, por toda a extensão do rio, exalando um aroma que cobriu todo o leito, se derramou pelas encostas e se adensou pelo vale em uma elegia perfumada.

Meses depois, ninguém soube ao certo ainda o que aconteceu. Mais tarde, se contou, foi que o rio nunca mais se ergueu e, nos seus trechos mais caudalosos, dizem, um novo arrulhar se pode ouvir, como uma segunda voz a sussurrar na língua das águas ao fim do dia. Quando isso acontece, juram, as flores brancas se abrem novamente e lançam em coro seu perfume sobre as águas, lembrando o vale que bem à tardinha ainda brilha, em algum lugar, um vermelho vivo e pulsante naquele rio.

Para o Willy, que passou por tudo, sempre rio.
Março de 2019.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Pela flor caiçá

 
Pela flor caiçá

Deste rio
tão caudaloso
só quero a margem.

Só a margem
não corre.
E sem corrente
(de repente?)
se é livre.

Mas o rio ruge
tão perto!

[tão alto]

Voraz

Engole tudo:
troncopauepedra

Engole a capivara que pasta de cabeça baixa, perto demais.

Engoliu o barco que ali ficava.
Engoliu a ponte que nunca existiu.

E os patos de borracha,
que boiam sobre a torrente,
(ainda não o sabem)
há também de engolir.

Tão caudaloso esse rio,
tão barulhento
e barrento
corre,
sem perceber que não tem por destino outro
que dar de frente
com outra corrente
e, engolido, sumir no mar.

O rio correu
roeu
levou morro e rocha e a capivara que nele entrou.

Mas a margem,
ainda que roída,
moída
doída
e arranhada,
permanece.

E quando a água baixar
ali vai brotar
uma flor caiçá.





Escrito certamente influenciado por esse texto do @saobrabo.
Foto do 7Themes, aqui.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Valquíria e a última serpente

Em dezembro passado, o Jornal de Santa Catarina solicitou-me um conto curto para o caderno especial sobre o fim do mundo, teoricamente previsto pelo calendário maia. Naquela oportunidade, o texto remetido e que saiu no jornal foi A Primeira Pedra. Eu havia escrito, no entanto, um outro que nunca foi apresentado. Mexendo nos arquivos acabei esbarrando com ele novamente. Coloquei-lhe um título e deixo-o aqui para dar uma atualizada:

Valquíria e a última serpente

Quando Valquíria acordou, pressentiu que algo havia mudado.Estava ainda sonolenta quando lembrou-se. Levantou ligeiro, o sol mal tinha saído, ao contrário do marido que saíra já há algumas horas para chegar a tempo ao trabalho. Calçou as pantufas rosas com florzinhas desgastadas, fechou o roupão com um nó apertado e correu até a porta. Assustou-se com o que viu. O mundo estava, de fato, terminando. Era como se tivessem retirado a fina película que cobria a realidade. Não havia muito que ela reconhecesse como antes. Olhou com certo desprezo as próprias mãos, tornadas garras depois dos anos de trabalho repetitivo nas máquinas de costura. Portão a fora viu o vizinho acuado pelo próprio carro que, feito uma besta, abria e fechava o capô, um ronco seco do motor e um brilho doentio nos faróis. Fumaça escura a nublar a cena. Fugiu, deslocada, em direção ao centro da cidade, evitando os transeuntes trôpegos. Na praça, um punhado de pessoas se acotovelava ao redor de uma fonte que jorrava para o alto rajadas de comprimidos multicoloridos. Chegando na avenida à beira rio viu, na outra margem, o velho barco tombado. Agora percebia, pelas fissuras no casco, que já estava podre e corroído por dentro havia muito. Foi quase sem fôlego que conseguiu atingir, ainda desnorteada, a ponte de ferro no final da rua. Começou a cruzar a construção se afastando do caos e, lá no meio, bem acima do rio, viu sua sombra descabelada projetada nas águas e entristeceu-se. De repente, percebeu uma outra forma avultar-se lá embaixo, logo abaixo da superfície do rio. Um corpo longo e serpentiforme. Apenas uma enorme e sinuosa sombra passando sob a água. O vento tentava sem sucesso afastar o som das sirenes e do caos. Valquíria subiu no parapeito. Viu uma de suas pantufas planarem lá do alto, sem destino, acima das águas. Atirou-se e caiu com um estrondo no rio. Depois de alguns segundos apenas, com um estrondo ainda maior, ergueu-se das águas uma enorme serpente emplumada. No seu dorso, agarrada às plumas, vinha montada Valquíria. Cabelos molhados em desalinho, roupão aberto, o pijama velho colado aos seios flácidos. E um sorriso descabido singrando a face. Cavalgava a serpente do fim do mundo.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Duas feiras e uma carência


Há umas semanas peguei o carro e resolvi aproveitar o fim de semana ensolarado para visitar as feiras do livro de Timbó e Jaraguá do Sul. Saí de Blumenau e, como de costume, me perdi mais uma vez em Timbó antes de encontrar a praça onde estava feira. Não que tenha sido muito complicado, é uma tradição minha perder-me pelas ruas de Timbó. Tradição que não pretendo manter, mas tem sido difícil evitar. De qualquer forma, a feira de Timbó opta pelo formato de Feira de Rua, com as tendas montadas na praça. Como esse ano não me inteirei das programação das feiras, fiz uma visita despretensiosa e sem planos. Cheguei após os painéis/palestras terem terminado. Ainda haviam alguns autores reunidos em um canto — identifiquei Alcides Buss, os demais não reconheci — mas não havia uma programação ocorrendo no momento. A estrutura me pareceu bastante adequada. À entrada passei pelo que parecia o núcleo da feira. Um corredor principal ladeado em toda a sua extensão por estandes de sebos e livrarias, expondo e comercializando livros novos e usados. Os preços ao meu ver variaram de próximos aos valores de livrarias a grandes pechinchas, encontrando alguns bons livros (em bom estado) a partir de R$ 2,00. Pareceu-me haver um certo equilíbrio na oferta entre a literatura infantil e a adulta, com um número razoável de crianças que também circulava acompanhadas dos pais. Ao fundo desse corredor, uma área perpendicular abrigava um auditório e o espaço de alimentação. Ambos bem dimensionados e dispostos. Uma detalhe que pareceu não funcionar na feira de Timbó foi o Troca-Troca (ou algo que o valha, não lembro o nome precisamente). Ao que parece foi criada uma mecânica em que as pessoas deveriam levar um livro, previamente, à biblioteca ou Fundação Cultural e daí ganhariam um vale para trocar por um livro no estande da Fundação. Aparentemente o fracasso da iniciativa se deu por uma falta de comunicação da mecânica da ação, visto que os visitantes estavam indo diretamente ao estande com seus livros para a troca e não puderam efetuá-la.

Tendo visitado a feira de Timbó na parte da manhã, à tarde rumei para Jaraguá do Sul. Percebo que a cidade vem se desenvolvendo culturalmente a passos largos, deixando um exemplo não só para as cidades vizinhas do vale do Itapocú, mas igualmente para Blumenau. Detalhe interessante, é que fui muito menos vezes para Jaraguá do que para Timbó. Não conheço a cidade, mas encontrei facilmente o local, que estava muito bem sinalizado por quase todo o percurso. O evento jaraguaense me pareceu consolidado. O local escolhido foi a SCAR — Sociedade Cultura Artística — usando a mesma estrutura de tendas encontrada em Timbó. Optando por vincular a feira à SCAR, ao contrário de um feira de rua na praça, por exemplo, a feira jaraguaense contou com uma estrutura de apoio que contava com mostra de filmes, exposições e gerou a aproximação do público com o espaço cultural. A disposição dos estandes em Jaraguá foi um pouco diferente da feira timboense. Mais abertos, "cercavam" um pequeno palco central (e um estande de alimentação e souveneirs, eu acho) onde aconteciam, em intervalos regulares contações de histórias. O sistema de som mantinha informados os visitantes com constância. No caso de Jaraguá, a feira pareceu ter um volume maior de crianças e literatura infantil. O acervo de livros e preços foi, no geral, similar a Timbó, pelo que me lembro. Nas duas feiras encontrei bons títulos a preços interessantes que acabei levando pra casa. Os estandes das editoras locais (ao menos me pareceram) me chamaram mais a atenção em Jaraguá do Sul do que em Timbó. Creio que alguns dos expositores estavam em ambas as feiras, o que me pareceu interessante. Jaraguá trouxe nomes de peso para a feira, mas como na minha visitação matinal, fui sem planos e não aproveitem nenhum palestra, discussão ou o que fosse. O único autor que vi circulando (lembrando que a maioria eu nem poderia identificar) foi Carlos Henrique Schroeder, que se não me falha a memória, estava organizando o evento.

Enfim, o saldo foi positivo e ambas as feiras pareceram comprovar que há espaço para esse tipo de eventos. Nos dois casos estavam bem movimentadas, encontrei carros de diferentes cidades e a estrutura me pareceu adequada. Não tenho números da feira de Timbó, mas os dados da feira jaraguaense apresentam mais de 80 mil visitantes de quase 40 cidades diferentes e mais de 60 mil livros vendidos. Dado que chama a atenção é que uma das cidades que mais visitou a feira foi justamente Blumenau. Uma cidade que carece de uma feira consistente e que parece ter público para tanto. Mas na falta da atração em sua cidade, migra para as feiras de cidades próximas, seja Jaraguá, Timbó ou Brusque.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma vela para Balzac

O século XIX certamente não teria sido o mesmo sem ele. Provavelmente, nem o XXI. Talvez, não fosse por ele, hoje nossas esposas, noivas e namoradas não se reuniriam no sofá ao redor de um pote de brigadeiro acompanhadas de um box de The Sex and the City. Senhores, a culpa por todos aqueles gritinhos, suspiros e risadas desenfreadas em frente à TV pode ser dele. O nome do irresponsável: Honoré de Balzac. Provavelmente mais conhecido por obras como “A Mulher de Trinta Anos” e “As Ilusões Perdidas”, o francês influenciou muito mais do que a possibilidade de séries de TV sobre novaiorquinas balzaquianas (entendeu agora de onde vem a expressão?).

Do compatriota Gustave Flaubert ao nosso brazuca Machado de Assis, muita gente passou por Balzac. O cineasta francês François Truffaut elevou o escritor ao ponto da idolatria juvenil no seu “Os incompreendidos” (Les quatre cents coups, 1959). Lá pelas tantas, no filme, o protagonista, um garoto de doze anos chamado Doinel, cria um altar em que acende uma vela para o autor, dentro de um pequeno apartamento. Resultado de tamanha dedicação: por pouco não põe fogo na casa inteira, é repreendido pelos pais e acaba desencadeando uma série de conflitos com as instituições estabelecidas da época, seja a família, a escola ou a polícia. Mas quem sabe essa seja possivelmente a melhor maneira de homenagear a um autor que incendiou as convenções da sociedade em que viveu, revolucionou a forma como a mulher era retratada e, principalmente, expôs a hipocrisia e a fragilidade moral da Paris de sua época.

Pergunto-me o que diria do nosso Vale que, se não se pretende Paris, então Munique, Berlim. O que escreveria se descobrisse que o nosso enxaimel tem telhado de vidro? Imagino a voracidade com que retrataria a nossa ânsia de não ser o que achamos que um dia já fomos. O volume da produção só seria equiparado à quantidade de antidepressivos saídos das nossas farmácias. Difícil considerar algo diferente nesse nosso Vale em que se consome muito mais Prozac que Balzac.

Amanhã é aniversário do escritor francês. Só não sei se devemos acender uma velinha ou atear fogo a alguma ideia.

* Crônica originalmente publicada no Jornal de Santa Catarina, no dia 19 de maio de 2011.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tornatore à Blumenau

Tornatore à Blumenau

O título desta crônica não faz referência a nenhum prato da Festitalia. Aqueles que lembraram do autor do clássico de 1988 devem lembrar da magia dos primeiros contatos com a sétima arte. Lembro de ter entrado meio desconfiado no interior daquele prédio antigo, entranhas de um ventre escuro repleto por filas intermináveis de cadeiras. A inclinação do piso não era tão acentuada como a das salas modernas. O som provavelmente não guardava tanta fidelidade mas isso me escapa à memória. Dos sons daquela tarde na escuridão, o mais marcante seria o da repetição constante do passar do filme pelo projetor. Sentado em uma das fileiras mais ao fundo, vi aquele som parir um facho de luz contra uma tela que se iluminou. Hoje trago mais próxima as imagens da sala, do prédio, da experiência, do que a do próprio filme a que fui assistir, do qual não lembro sequer o nome. Mas lembro do clímax daquela experiência. Lembro de, após ter sido absorvido por aquele pavilhão escuro, caminhar por um corredor pouco iluminado, com uma leve inclinação sempre descendo, descendo, descendo. Até paradoxalmente emergir à luz de uma tarde clara e iluminada sobre a calçada de uma Alameda Rio Branco sem os pavers dos dias de hoje. Aquilo foi mágico, de alguma forma. À minha frente, um prédio enxaimel de esquina e, atrás de mim, as portas abertas e as paredes altas e escuras do Cine Busch. Aquele dia volta e meia torna-me à memória. Vejo quase diariamente aquelas mesmas paredes escuras que, ainda que não possam me transportar para o seu interior e me envolver na escuridão, ainda evocam aquelas lembranças de luz e magia. O meu Cinema Paradiso particular.

Hoje recordo e relato essa história para celebrar o fim de um hiato que há muito já se estendeu. Há mais de dois meses lembro de ter lido, aqui mesmo neste espaço, uma sentença auspiciosa: “Tenho certeza de que os dois meses de jejum não serão esquecidos com facilidade”. Naquele tempo, bem antes das férias de que agora desfruta, o titular dessa coluna questionava o vazio deixado pelas reformas das salas de cinema em Blumenau. Um pouco além das oito semanas previstas, o jejum parece finalmente ter chegado ao fim. Amanhã serão abertas ao público as novas salas de projeção de Blumenau. Com o retorno das salas escuras, a paixão pelo cinema parece readquirir fôlego entre as montanhas do Vale. A cicatriz, no entanto, ainda coça. Será que os olhos do Vale se voltaram às telas ausentes a ponto de evitar um novo hiato? Ou de perceber a importância daquilo que nos foi inacessível pelo bimestre passado? Pergunto-me se o augúrio de Tenfen se confirmará.

* Esse texto foi originalmente publicado no Jornal de Santa Catarina, do dia 05 de maio de 2011.
** Maicon Tenfen, cronista titular da coluna, está curtindo as merecidas férias. Fui convidado pelo jornal para, durante esse período, escrever as crônicas das quintas-feiras. Quatro outros escritores assumirão os demais dias da semana. Ao fim do período de férias Tenfen reassumirá a coluna. Ao passo que as novas crônicas forem ao ar, vejo se posto os textos aqui, posteriormente à publicação.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Selenita - Convite




Convite para lançamento de Selenita: 07/12, 3ª feira, no Butiquin.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Selenita - Lançamento



Data agendada: 07 de dezembro de 2010, no Butiquin Wollstein, será a noite de lançamento de Selenita.

Ainda faço um email mkt decente e posto aqui o convite oficial. Mas por hora fica esse lembrete.