domingo, 24 de fevereiro de 2008

Os Herdeiros do Coveiro sem Cova

Esse acabou de ser postado lá no Duelo. O tema da rodade é Zumbi. Se vc chegou aqui, deve ter vindo de lá. Se não, dá um pulo e confere o projeto. "Seu voto é muito importante para nós", como diria a garota do telemarketing. Mas agora, vamos aos zumbis.

Entraram correndo. Fecharam atrás de si o portão que separava os vivos dos mortos. “Agora os mortos dos outros mortos”, pensou o velho da espingarda na mão. Os muros altos e o portão lhes dariam alguma proteção por algum tempo. Era estranho procurar a vida na vila dos mortos. Escapar da morte em meio aos que já a abraçaram. A moça da saia rodada estava em paz. Sempre odiou cemitérios. Não visitava nenhum, não assistia a funerais nem de familiares. Preferia lembranças melhores, dizia. Mas aqui, entre as lápides sob a lua que começava a aparecer, ela se sentia em paz. “É lá fora que se morre”, pensou. E permitiu-se um momento de alegria entre os túmulos. Apenas o segundo desde que esta loucura começara. O primeiro foi encontrar o velho e seu filho e, assim, não precisar mais vagar sozinha por aí, à noite, feito um... Ela fez uma careta para não pronunciar a palavra. Mas já a havia pensado. E no pensamento, que é tão feito de palavras como um livro, lia-se zumbi. O filho do velho viu a expressão da moça e foi como se lesse a palavra. Levantou o revólver de tambor procurando algo em que fazer mira enquanto apertava o cabo do facão na outra mão. Mas aqui todos os mortos estão em silêncio, dormindo o sono dos justos, como diziam uns, ou descansando em paz, como dizem outros, em suas camas de madeira com dossel de terra. Nas cabeceiras liam-se seus nomes, como para que não se confundam na hora de voltar para a cama. A troça não agradou o velho da espingarda. Não gostou de pensar que alguns dos seus amigos, que ali estavam, podiam levantar-se e querer um abraço em nome dos velhos tempos. Mas logo se tranqüilizou lembrando que os nomes nas lápides não eram para aqueles que nelas se deitavam. Mas para aqueles que entre elas caminhavam. “Afinal, somos nós que precisamos de guias. Somos nós que vivemos perdidos”. Pôs-se a caminhar seguido do filho e da moça da saia rodada. Lá fora os mortos caminhos entre os vivos, cá dentro, os vivos entre os mortos.
Um grunhido os despertou. Voltaram os rostos, assustados e de armas a postos. Teriam sido encontrados? A cena que viram, no entanto, foi desconcertante. Pálido, com a luz da lua banhando-o, estava um dos mortos-vivos. Grunhindo com as veias roxas mostrando-se sob a pele e com os braços estendidos em sua direção, tentando alcança-los. Mas não saía do lugar. Seus pés não tocavam o chão. Balançavam-se a um metro e meio de altura do chão, como se estivesse caminho com os sapatos sem cadarço flutuando. Os cadarços que faltavam estavam em torno do pescoço machucado e iam amarrar-se num galho de árvore logo acima da cabeça. Um fruto podre pendendo da árvore morta. Mantendo-o sob a mira, aproximaram-se. O braço esquerdo tinha ainda as marcas de dentes, provavelmente o ferimento que o transformara naquela abominação. A moça da saia rodada tinha os olhos inundados em lágrimas. Sentia pena dele. Ali pendurado, enforcado em sofrimento eterno. Como ele tinha parado ali ela não sabia, mas sabia o que precisava ser feito. Não se assustou quando o velho levou o cano da espingarda bem perto do rosto da criatura, que estendia os braços e grunhia enquanto tentava inutilmente caminhar para pega-los. Uma marionete pendura pelas cordas enleadas. A moça virou-se. Ouviu o velho puxar o cão da arma. Um breve silêncio. Um suspiro pesaroso — o velho parecia tão triste quanto ela — e a explosão. Ela não se virou. Ninguém falou. Só pela sombra que atingia uma lápide ela via o corpo inerte, com os braços pendurados, balançando-se, de um lado para o outro, como um pêndulo que marcava as horas para o inevitável. Finalmente ela vira-se. Não olhou para cima. Via apenas os pés que balançavam, um já sem o sapato, que caíra com o tiro. O cano da espingarda baixou. O velho fungou. Também tinha os um pouco úmidos. Já os olhos do filho não se comoviam.
— Vocês não vão chorar por ele, vão? Ele não teria pena de nós se fosse o contrário.
— Mas ele teve — retrucou o velho — se algum morto-vivo tivesse chegado aqui e ele já estivesse morto, não teria porque tentar come-lo, logo ele não se tornaria um zumbi. E se ele já fosse um zumbi, não teria se enforcado. Se ele está aqui é porque sabia o que aconteceria com ele depois da mordida no braço. Foi para não nos caçar, que ele se matou.
— Sem nem mesmo nos conhecer, completou a moça.
— Só é pena que a coragem não traga por si só sabedoria. Ele não sabia que precisava destruir o cérebro. Provavelmente morreu e ficou pendurado até a mordida fazer efeito e ele acordar como um deles.
— Pela roupa pode ser o coveiro, observou o filho do velho da espingarda.
— E a casa dele deve ser aqui perto. Lá a gente deve estar mais seguro, concluiu a moça, tentando não olhar para vulto pendurado.
E o trio se foi deixando para trás a árvore do coveiro sem cova.
A casa era pequena, o mobiliário simples. Foi tudo o que puderam observar antes de ouvir o som do grito e um arranhar constante. Seguiram o som com cautela, armas em punho. A moça da saia rodada atrás da fila, o filho do velho na frente. Acenderam a luz da cozinha de azulejos azuis decorados. O som vinha da porta que dava para o porão. O filho do velho apontou o revólver para a porta e fez sinal para o pai abri-la. De dentro saltou uma mulher e o filho do velho por pouco não disparou contra ela confundindo-a com um zumbi. A sorte foi que ela estava toda arrumada. Com um vestido de baile turquesa brilhante bem ajustado ao corpo, um colar de pérolas falsas que dava algumas voltas ao redor do pescoço, o cabelo com um loiro penteado de festa e muito bem maquiada. Por pouco o filho do velho não disparou quando ela se precipitou para os seus braços. Antes o tivesse feito. Só quando viu a expressão de dor do filho o velho percebeu o que acontecera. Com um golpe com o cabo da espingarda afastou a criatura do rapaz o suficiente para disparar um tiro certeiro que arrebatou o rosto maquiado e lançou tufos de cabelo laqueado ao chão da cozinha. Quase imediatamente, o velho virou a arma alguns graus para a esquerda e, de mira feita e olhos fechados, puxou o gatilho novamente. Espalhou sobre o azulejo azul a cabeça e o sangue do filho. “Sangue do meu sangue”, pensou, e colocou o cano quente sob o queixo. A moça da saia rodada deu rápido um tapa no cano que reclamou com chumbo contra o teto. O velho olhou para ela, deixou cair a arma ao chão, lágrimas ao rosto e o corpo à moça, que o amparou o melhor que pôde. Levou-o de volta a sala e deitou-o no sofá. Tornou a cozinha para pegar a arma e viu o ferimento no ombro do rapaz, as marcas vermelhas de dentes. Nauseou-se frente aos corpos sem cabeça e a cozinha ensangüentada. Aliviou o estômago ali mesmo, junto à porta que leva ao porão. Limpou a boca na manga da blusa, pegou a espingarda do chão e desceu as escadas com o dedo no gatilho.
Lá embaixo a luz estava acesa e viam-se duas mesas de metal. Sobre uma delas, o corpo inerte de um senhor de terno bem alinhado. A moça parou no último degrau. Não ouviu nada. Olhou em volta. Nada. Com a arma apontada ao corpo se aproximou em silêncio, pé ante pé. Apontou para a cabeça, envolveu o gatinho com o indicador e tocou a têmpora com a ponta do cano. Deu três cutucões. Estava morto. Respirou um pouco mais aliviada. O homem era velho e um pouco barrigudo, mas estava vestido com tal elegância que lhe pareceu charmoso. O cabelo branco impecavelmente penteado e o rosto maquiado davam a impressão de que poderia a qualquer momento abrir os olhos acordando. O pensamento a fez afastar-se um pouco e olhar novamente em volta. Era ali que eles preparavam os mortos para os velórios e enterros, disfarçando a morte com uma camada generosa de pó-de-arroz e algum blush. “Do pó ao pó”, o trocadilho lhe veio. A mesa ao lado estava vazia, mas numa banqueta próxima estava um estojo de maquiagem. Ao lado deste um espelho de mão fora esquecido do lado de fora. “Mas os mortos não precisam de espelhos para maquiarem-se. São os vivos que se espelham em reflexos”. No chão, atirados a um canto, viu três vidros de comprimidos com algumas poucas bagas bicolores que sobraram caídas em volta. Ao lado da cama vazia havia um copo de água pela metade. “Metade vazio”, lembrou-se do adágio Olhou para o senhor distinto da mesa ao lado. “Ela só queria ir bonita”. Voltou para o estojo de maquiagem. Pegou o espelhinho de mão e procurou-se lá dentro. Quase não se encontrou, tão suja que estava. “E ela estava certa”. Chegou a pronunciar as palavras baixinho, enquanto olhava para o estojo que guardava os segredos da beleza e certamente algum pó-de-arroz. Foi à pia na parede próxima, lavou o rosto, os braços e o colo o melhor que pôde e secou-se com uma toalha de rosto. Passou também a toalha umedecida pelas pernas, tirando o grosso da sujeira. Sentou-se na mesa vaga, com o espelhinho na mãe esquerda e o estojo sobre as coxas escondidas sob a saia rodada. “O certo seria deitar-me”, ponderou olhando para o vizinho de mesa. Mas aí não conseguiria maquiar-se direito. Permaneceu sentada e abriu o estojo. Lá dentro encontrou, junto com os cosméticos, um caderno grosso e pequeno, de capa rosa e marcado com uma flor seca no meio das páginas. Era um diário de mulher. A página marcada continha as últimas anotações. A história daquele último dia era terrível.
Ela era a mulher do coveiro sem cova. Ela maquiava os mortos para que eles parecessem bonitos nos velórios, e o marido os enterrava para que ninguém visse como ficavam feios depois que não lhes damos mais atenção. Os dois tinham sido feridos pelos mortos tentando voltar para casa, mas conseguiram se desvencilhar. Voltavam para casa em busca da bebê. Quando chegaram ela estava sozinha. A babá devia ter fugido, ou ido procurar os próprios familiares. Feridos eles já sabiam o que lhes aconteceria em breve. Perguntou para o marido se havia alguma forma de escapar daquele destino, nem tanto por eles, mas pela filha. O marido disse que a única forma de escapar de uma morte horrível era por uma morte mais digna. Decidiram que a filhinha não morreria pela mão dos mortos. Era melhor uma morte tranqüila, dormindo, junto da família. Enterraram o bebê junto ao túmulo dos avós, para que, dormindo morresse e em um sono tranqüilo. O marido disse que precisava ir fazer alguma coisa. Ela compreendeu e sabia e ele não retornaria. Tinham feito amor pela última vez entre as lápides e ele se fora. As últimas palavras foram “uma morte mais digna”.
A moça da saia rodada fechou o diário. Olhou a maquiagem, os comprimidos no chão, lembrou-se do chão da cozinha... “Não adiantou”, pensou. E completou em voz alta “você precisa destruir o cérebro”. Ia fechar a caixa de cosméticos e viu uma última vez o diário. Pensou que também gostaria de, ao morrer, ser enterrada ao lado dos avós. Morrer de uma morte tranqüila, enquanto dormia. E foi como se uma luz se acendesse. Se a bebê ia morrer enquanto dormia, ela estava viva quando foi enterrada. E ainda poderia estar. Ela subiu as escadas correndo, passou voando pela cozinha e contou ao velho o que descobrira. Saíram em busca das lápides que tinha o mesmo sobrenome que estava no verso da capa do diário. Ao lado da lápide havia um pequeno monte de terra com uma pá, ainda suja, próxima. O velho pegou a ferramenta e começou a cavar. A cova era rasa e logo atingiu um objeto duro, que começou a chorar em protesto contra o impacto. Tiraram o resto da terra com as mãos e abriram o pequeno caixão. A criança chorava e só se calou nos braços da moça. Eles, que vieram salvar as suas vidas entre os mortos, não esperavam salvar a de outra pessoa. Do lado de fora dos muros, os mortos ainda perambulavam pelo mundo dos vivos. Do lado de dentro, ao menos por aquela noite, os vivos levariam a vida no mundo dos mortos.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Decote-se

Sambinha escrito lá pro Duelo, umas das primeiras rodadas.

Decote-se, denote-se
'que teu decote é carnaval.
Peito aberto, orbes ao vento,
da vida, manancial.

Decote-se, denote-se, morena,
vem!
Que teu decote é meu enredo,
é meu credo, é meu bem.

No teu decote que me perco,
que m'encontro, me aconchego.
No teu decote um abrigo zen.

Nos teu orbes de desejo
te desejo,
sem decoro,
sem decote, vem, morena, vem.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Duelo de Escritores

Essa foi postada originalmente lá no Duelo de Escritores, mas como achei bacana, deixo aqui também.

A grama reclamava com estalidos gélidos sob a cristalina capa que abraçava as folhas ainda adormecidas naquela manhã fria. Do nevoeiro baixo que cobria o solo, se erguia uma figura sombria, protegida do frio pelo sobretudo escuro. O respirar lançava nuvens por sob o bigode meticulosamente aparado. E sob as sobrancelhas escuras, dois olhos soturnos perscrutavam a neblina. Aguardava paciente, segurando a maleta pendente em uma mão enluvada enquanto a outra procurava abrigo no interior do bolso. Aguardava o tempo passar aquecendo a memória com a lembrança de um barril de Amontillado. Às exatas seis horas um novo vulto divisou-se além da neblina. Cada passo estraçalhava a grama fria e quebradiça. Mais uns passos e fez-se visível a figura esguia. Uma testa proeminente e alta encimava-lhe a fronte, donde pendiam para trás as já não tão vastas madeixas, em longas ondas até a altura do maxilar. Um bigode desenhava-se sobre o lábio superior enquanto um tufo de barba pendurava-se do inferior. As duas figuras olharam-se e, com um movimento de cabeça, cumprimentaram-se.

— Bons dias, Mestre William — disse o homem que aguardava com a maleta.

— Se bons fossem os dias, estaríamos nós a ensaiar uma comédia e não a atuar uma tragédia, Edgar.

— A tragédia fostes vós que escrevestes. A mim cabe apenas dirigi-la e assisti-la.

— Pois prepara a platéia que ora chega mais um ator. Quem vem lá, que singra o nevoeiro qual espectro assombrado?

Silenciosa, a figura surgiu da neblina como quem vem de outro mundo. No alto da cabeça um chapéu marcava-lhe a silhueta, no pescoço uma gravata borboleta fechava-lhe o colarinho engomado. Por trás do par de óculos tremeluziam olhos serenos, mas que continham uma miríade de olhares, como uma represa que sustenta calmamente águas revoltas, mas que pode romper-se a qualquer momento.

— Acalma-te, bardo, que não é espectro que se aproxima. Já não há tanto entre o céu e a terra. Não é fantasma régio que chega, é teu algoz que se apresenta em Pessoa — provocou o recém-chegado.

— Pois vem, biltre, que se hoje és Montecchio, sou Capuleto.

— Chama-me como quiseres, que nomes não me faltam.

Os dois acercaram-se, os olhares trocando insultos. O homem da maleta aproximou-se, abriu a valise e entregou a cada um dos oponentes uma longa adaga. Os dois combatentes guardaram distância enquanto o portador da maleta se afastava com ela vazia. Em algum lugar um corvo crocitava um malfadado epílogo. Ao fim do dia apenas um dos antagonistas retornaria para casa. O outro, nunca mais.

— Pronto, inglês, cá estou de pena em punho. Empresta-me o pergaminho do teu couro, que tenho poemas a escrever.

— Medida por medida, português. Se queres domar o papel, é preciso aprender a usar a caneta. Em ti, a vida já é apenas uma sombra ambulante, cheia de fúria e muito barulho, mas que nada significa.

— Teus versos são profundos, mas os escritos de tua lâmina são rasos. Vê, sou ainda página em branco.

— Cão vil, mordes o polegar para mim? Quem és para confrontar-me com tal desonra? Acaso escrevestes sob o égide da Rainha Virgem? Acaso escrevestes para reis?

— Se é Reis que queres, Mestre William, Reis terás. Vem, Ricardo, que Shakespeare te espera!

Por trás dos óculos fulgurou um brilho intenso e o nevoeiro ao redor do poeta dançou. De trás de sua imagem surgiu, como vindo de um mundo de sombras, outro homem. Lado a lado, mal podia-se dizer quem era quem. Não fosse pela ausência dos óculos, os dois homens seriam iguais.

— Traz reforço, poeta? Pois bem! Se tu trais-me com novo combatente, traio-te com um conterrâneo. É agora, José!

Um estampido soou seco na manhã e Ricardo Reis pôs-se ao chão, com o sangue quente derretendo o orvalho sobre o solo. Da neblina, mais uma silhueta se aproximava. Os cabelos ralos e prateados se misturavam à neblina branca, e os óculos de lentes grandes protegiam os olhos tristes. Na mão magra uma velha pistola espanhola cuspia a fumaça acinzentada.

— Traição! — gritou o poeta português — E pelas mãos de um conterrâneo! Matastes Ricardo Reis.

— Se o matei foi para que outro Pessoa não morresse. Cessem, nobres senhores, essa lúgubre peleja. Pouco importam as ofensas passadas, se no fim Todos os Nomes se reúnirão como iguais. Cessem a tragédia, cessem este ensaio. Acaso a cegueira cercou-lhes os sentidos?

O americano que a tudo assistia, se aproximou sombrio. Abriu a maleta e estendeu-a aos duelistas:

— Senhores, abandonai a máscara rubra da morte. Estas cercanias da rua Morgue já têm crimes suficientes.

Os quatro trocaram olhares. Os olhos sombrios de Poe, os tristes de Saramago, os serenos de Pessoa e os inquietos de Shakespeare.

— Chega de mortes, que o Pastor já se ri — insistiu Saramago, deixando cair a pistola.

— Pois bem. Nem tudo vale a pena — declamou Pessoa, depositando a adaga afiada na maleta que Poe oferecia.

— Vamos, Shakespeare. Abandona a Tempestade e deixa à alma uma noite de verão — reforçou Poe.

— Todas as noites de verão são sonhos — retrucou o bardo. E com um movimento rápido, lavou-se da culpa de Macbeth e cravou a lâmina fria no abdome de Pessoa. Todos os olhos eram agora de surpresa. Inclusive os de Shakespeare, ao ver o poeta com a adaga cravada no corpo, mas ainda de pé. A morte parecia ter tido a sua intermitência. Sem respostas e sem palavras, os quatros deram as costas uns aos outros e se perderam de novo no nevoeiro.