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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Charqueado


Charqueado

Hoje vi meu livro
numa estante pública,
pendurado feito carne
na vitrina de um açougue.

Queria eu, pingasse sangue.
Ver luzir o brilho das gorduras
    (posta exposta)

Queria ver o nervo
mais incômodo entre as fibras.
Queria o cheiro mais vermelho,
a gota mais viva
e o visco mais rico.

Sede de sebo.


Mas hoje só tem carne-seca.

A cerveja ajuda a descer.




Laura com Selenita, acho que não muito após o lançamento.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O Tratado



O Tratado

Se há, de fato, um mal supremo senhor da danação dos homens, essa besta atende pelo nome de Lepisma saccharina. Se o leitor é, como posso supor, alguém que nutra algum terno sentimento pelos livros, deve nutrir o mesmo ódio que eu por essa aberração cuspida pelos nove infernos. Não há manhã de sol que sobreviva ao encontro com uma traça se esgueirando pelas paredes de casa. Não há alegria que não murche ao confronto com aquele casulinho pendurado na parede, de onde o verme se esgueira a caminho de hediondos atos de vandalismo.

Outro dia estava eu, repassando alguns volumes pelo simples prazer de correr os dedos sobre as lombadas perfiladas na estante quando, sem aviso, me deparo com aquele corpinho infernal se erguendo por sobre a coluna de um Dostoiévski garimpado em sebo. Olhei por sobre os livros e encontrei, no fundo da estante, vários outros casulos pendurados lá atrás. Crime e Castigo. Fui até a área de serviço e me enfiei embaixo do armário onde eu sabia que tinha guardado aquele pesticida provavelmente já vencido. Voltei ao quarto que me servia de biblioteca e escritório, fechei a porta como que para garantir que nenhuma vítima me escaparia e iniciei o ataque.

Era o meu Vietnam pessoal. Como se o Napalm cobrisse os inimigos entrincheirados. Praticamente podia ouvir os gritos de desespero, os casulos se precipitando, os pequenos demônios se contorcendo. Os olhos começaram-me a arder, não sei pelo efeito do levante químico ou pelo calor da batalha. Pela visão embaçada ainda pude ver pequenos amontados se reagrupando. Por trás de um Arte da Guerra bem surrado, uma coluna começou a avançar em minha direção. Alguns ainda nos casulos, jovens enviados à linha de frente, outros já mais experientes, com pernas várias, velozes, tenazes vorazes, com a experiência de parágrafos devorados e clássicos deglutidos.

Uma rajada dupla derrubou a vanguarda do levante, espalhando no ar o cheiro agressivo do químico. Junto ao som do spray, pareceu-me ouvir um pequeno guincho. Em um dos flancos da estante, sobre o Guerra e Paz, na ponta da lombada de capa dura e sobre o brilho dourado da borda das páginas, um traça velha e solitária abanava no ar as quatros perninhas dianteiras, as antenas balançando alvoroçadas, o corpo acinzentado um tanto levantado. Fui em sua direção com o dedo sobre o gatilho da lata, que gotejava veneno preparando um disparo fatal. Quando me aproximei encolheu-se, pude perceber o tremor percorrer cada gomo do corpo diminuto, as antenas elétricas. Quando viu que hesitei um momento, observando-a por entre a nuvem química que já pairava no ar do quarto fechado, me encarou de frente e tornou a arquear o corpo, elevando as patas dianteiras que, àquela distância, pareciam fazer um movimento para que me aproximasse. Talvez pelo inusitado da situação, mas o guinchar baixinho parecia mais audível, quase compreensível. Aproximei do rosto e pude perceber os movimentos débeis, praticamente ouvindo a tosse baixinha de um velho soldado que já combatera tempo demais. As patas finas claramente pediam minha aproximação. Colocando o ouvido próximo do inseto puder ouvir a vozinha estridente falhando. Até que aos poucos foi tornando-se inteligível, ainda que sumidoura. Um tratado. Dois generais cercados pelos corpos de seus homens: traças e livros, destroçados dos dois lados, perdas irreperáveis de um conflito que parecia não ter vencedor.

Podia sentir as gotículas do veneno vencido pairando ainda no ar com um cheiro nauseabundo, nublando-me os sentidos. No fundo da estante corpos caídos e feridos aguardando o desfecho daquele impasse. Mantinha-me irresoluto. Nenhuma traça tornaria, sob pena de uma descarga mortal da arma que ora portava, a tocar as quelíceras sobre uma página sequer daqueles volumes. Nem que para isso tivesse que descarregar uma ofensiva diretamente por sobre toda a coleção. Elas, no entanto, não tinham opção, tentava convencer-me o general. Restaria-lhes a morte, lenta, por inanição. A paz momentânea pendia por um fio mais fino que a página de um livro velho. Bastaria mais um furo apenas, um toco de celulose arrancado, que me precipitaria sobre insetos, livros, estante, até esvaziar a lata.

O inseto agitava as antenas, as patas tamborilavam nervosas sobre a lateral dourada das páginas. De repente parou. A velha traça paralizara-se. Foram as antenas que primeiramente voltaram a se mover. Devagar mas de forma precisa, como que sintonizando uma ideia que nascia ali. Celulose? Furos? Páginas? Pude perceber no ar inebriante a ansiedade no pouco que restara das falanges destroçadas. Era vibrante, ainda que débil. Parecia... esperança? Celulose, repetiu entre tosses. Não era por celulose que lutavam. Não eram as páginas ou a tinta nelas impressa que buscavam os insetos. Eram as palavras, apenas, que alimentavam aqueles corpos anelados. Palavras e nada mais. Por que insistam então sobre os livros? É lá que estavam as palavras, balbuciava a velha traça, as antenas agora lépidas no ar. Se houvesse uma maneira, se se descobrisse uma forma, deixariam de bom grado as páginas em paz para deglutir apenas as palavras. As frases, as histórias, as metáforas cultivadas a tanto a custo e guardadas por tantos anos e semeadas em tantos lugares. As palavras.

Estiquei a mão para o livro onde estava o general. Assustado, congelou no lugar. Passei para um volume mais distante, um pequeno Metamorfose ganho de uma amiga, anos atrás. Saquei o volume, abri na página determinada pelo marcador esquecido e comecei a ler em voz alta. Minha voz atingia a nuvem de veneno que pairava, criando espirais entre as gotículas suspensas. As traças se aproximaram das bordas, silenciosas mas trazendo um vibração quase frenética com elas. Foram surgindo dezenas de pares de antenas na beirada da estante, atentas a cada vocábulo, a cada imagem proferida, a cada parágrafo servido. O general, entre surpresa e alívio, juntou-se ao banquete. Empanturraram-se por umas três horas até que peguei no sono na cadeira, no quarto fechado tomado do cheiro entorpecente do inseticida que ainda inalava.

Despertei no dia seguinte com as costas doloridas pela posição desconfortável. O livro no colo aberto na última página lida. Conferi os livros na estante e não encontrei nenhum resquício do confronto. Sequer os corpos abatidos estavam lá. Os volumes não apresentavam nenhuma presença dos insetos. Ajuntei a lata de inseticida caída ao chão, sentido as costas reclamarem e a lembrança tentando ficar mais nítida, sem muito sucesso. Abri a porta e deixei o escritório. Sobre a mesa de trabalho, aberto, o livro ficou para trás. Tinha a impressão de que no dia seguinte continuaria a leitura.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

certezas

certezas são nuvens
que um sopro
de virar de páginas
desfaz

terça-feira, 19 de abril de 2011

Selenita na Furb TV


Tá até o Félix atualizou o blog dele. Sinal que era hora de mexer nas coisas por aqui.

Em breve posto mais um texto, mas por hora deixo a entrevista cedida a Viegas Fernandes da Costa, editor do Sarau Eletrônico, no programa Dica de Literatura da FURB TV.

Para quem quiser ver minha cara de assustado, suado de chegar em cima da hora ou só curtir uma vergonha alheia, é só acessar o vídeo aqui ou clicar na imagem ali em cima.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Lançamento Selenita - Fotos


A pedidos, algumas fotos do lançamento de Selenita, que ocorreu em dezembro do ano passado no Butiquin Wollstein em Blumenau - SC. A um clique na imagem ela amplia.

Algumas fotos não são de fato do dia do lançamento, mas da participação de Selenita no 4º Bazar EstiloArte e do encontro com o poeta curitibano m.r. mello. Mas como é a mesma temática, tá valendo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Orelha de Selenita



Selenita tem o prazer de ser lançado bem representado. Esse é o texto da orelha do livro, escrito por Viegas Fernandes da Costa. Chega de introdução. Sigo com as palavras de Viegas.


Selenita

Selena, aquela que “rodopiava pela grama sem espantar o orvalho”, tão leve, “orbitava a vida, de saia rodada rodando o mundo”. Eis a palavra sensível de Rodrigo Oliveira, capaz de perceber Selena onde todos percebemos multidão, capaz de notar um moinho “em um tempo que já não enxerga gigantes”. Nestes dias que correm, de tantas palavras ocas, Rodrigo é Quixote que se entrega, tal qual um dos seus personagens, à sopa de verbo ainda que na pobreza de víveres, e assim sabemos, soledade, da existência de velho Genaro, apaixonado por Cida, no Cine L’Amour. Amor pornô? – indagamos. E a resposta nos surge como uma Macabéa travestida de senhor, de cinema, de saudade. “Selenita” – primeiro livro de Rodrigo Oliveira – nasce assim sob o signo do engenho e da sensibilidade. O engenho de Maira Maíra, que “mastigou mato maligno, minguando muda”, e a sensibilidade de um narrador capaz de ouvir os homens do mar, atracados na praia e na miragem.
Os 21 contos que compõem “Selenita”, distribuídos em dois “quinhões” – o primeiro, cartografia da alma; o segundo, engenharia narrativa – , apresentam-nos um autor que surpreende com seu universo temático e o requintado uso da palavra. Em alguns contos somos desafiados a um jogo, como quando perguntados a respeito do protagonista (“quem é o protagonista?”); em outros, o convite ao inusitado e ao extraordinário. Neste pêndulo, Rodrigo nos convida a conhecer a árvore de Herr Voss, acomodados sobre as possibilidades de um Fokker Dreidecker, “a estática do ar passando ligeiro por suas asas”; bem como nos remete ao já distante ano de 1920, onde os “Irmãos Van Loon” competiam pelos Países Baixos o cabo-de-guerra nas Olimpíadas. São textos mágicos estes de Herr Voss, Van Loon! Textos de uma tradição narrativa que um dia quase perdemos em meio aos tantos experimentalismos literários, mas que “Selenita” nos devolve com a força da criatividade e da fabulação. A mesma fabulação que nos coloca em suspenso aguardando as sete badaladas, ou investigando gárgulas no interior campestre de uma França que não mais cremos, mas que está lá!
Há de se fazer a travessia, Leitor, neste principado de um livro pleno! Há de se tomar “o último café de Peter”. O convite está feito, e vale a pena!

Escritor e Historiador

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Selenita - Convite




Convite para lançamento de Selenita: 07/12, 3ª feira, no Butiquin.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Selenita - Lançamento



Data agendada: 07 de dezembro de 2010, no Butiquin Wollstein, será a noite de lançamento de Selenita.

Ainda faço um email mkt decente e posto aqui o convite oficial. Mas por hora fica esse lembrete.