terça-feira, 18 de agosto de 2015

Bandeiras Vermelhas


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Um Minuto para o Cárcere


Um Minuto para o Cárcere

Três e trinta e dois da madrugada de três de março. O relógio na parede havia parado no momento exato em que o projétil de zero ponto trinta e oito polegadas lhe varara a face entre os ponteiros e se instalara entre as engrenagens por trás do mostrador de números romanos. Ávila olhava o instrumento iluminado pela única nesga de luar que driblava as cortinas pesadas. O facho pálido de luz envolvia os ponteiros com uma aura quase mágica. Três e trinta e dois, de três de março. Três do três. Não resistiu a tornar o momento mais auspicioso. Com o dedo adiantou o ponteiro maior em um minuto. Agora sim: três do três, às três e trinta e três. Satisfeito, guardou no bolso interno da jaqueta o revólver e saiu sem deixar vestígios e, como únicas testemunhas, o relógio varado na parede e o cadáver atrás de si que também guardava, no peito, outro projétil calibre trinta e oito.

Duas semanas depois, o relógio marcava no mostrador digital ao lado da cama um horário sem graça: vinte e duas e cinquenta e sete. Ávila, sonolento, não chegou a lhe dar atenção. Foi o som da porta do quarto arrombada que o despertou a tempo de ver a luz de uma lanterna tática apontada para o rosto a ofuscar-lhe a visão. Quando os olhos se acostumaram ao novo ambiente e o sono lhe abandonara por completo pode divisar os canos das armas apontadas para si, as balacravas negras e os conhecidos coletes balísticos onde lia “polícia civil” em letras brancas.

Agora, na cadeira de réu, ouvia o promotor público recriar o serviço executado em uma versão aproximada. Achou irônico o fato de ter sido condenado a tanto tempo por causa de um minuto. De um auspicioso minuto que deixara sua digital entre os ponteiros de um relógio de parede transpassado por um projétil, às três e trinta e dois da madrugada de três de março.