O século XIX certamente não teria sido o mesmo sem ele. Provavelmente, nem o XXI. Talvez, não fosse por ele, hoje nossas esposas, noivas e namoradas não se reuniriam no sofá ao redor de um pote de brigadeiro acompanhadas de um box de The Sex and the City. Senhores, a culpa por todos aqueles gritinhos, suspiros e risadas desenfreadas em frente à TV pode ser dele. O nome do irresponsável: Honoré de Balzac. Provavelmente mais conhecido por obras como “A Mulher de Trinta Anos” e “As Ilusões Perdidas”, o francês influenciou muito mais do que a possibilidade de séries de TV sobre novaiorquinas balzaquianas (entendeu agora de onde vem a expressão?).
Do compatriota Gustave Flaubert ao nosso brazuca Machado de Assis, muita gente passou por Balzac. O cineasta francês François Truffaut elevou o escritor ao ponto da idolatria juvenil no seu “Os incompreendidos” (Les quatre cents coups, 1959). Lá pelas tantas, no filme, o protagonista, um garoto de doze anos chamado Doinel, cria um altar em que acende uma vela para o autor, dentro de um pequeno apartamento. Resultado de tamanha dedicação: por pouco não põe fogo na casa inteira, é repreendido pelos pais e acaba desencadeando uma série de conflitos com as instituições estabelecidas da época, seja a família, a escola ou a polícia. Mas quem sabe essa seja possivelmente a melhor maneira de homenagear a um autor que incendiou as convenções da sociedade em que viveu, revolucionou a forma como a mulher era retratada e, principalmente, expôs a hipocrisia e a fragilidade moral da Paris de sua época.
Pergunto-me o que diria do nosso Vale que, se não se pretende Paris, então Munique, Berlim. O que escreveria se descobrisse que o nosso enxaimel tem telhado de vidro? Imagino a voracidade com que retrataria a nossa ânsia de não ser o que achamos que um dia já fomos. O volume da produção só seria equiparado à quantidade de antidepressivos saídos das nossas farmácias. Difícil considerar algo diferente nesse nosso Vale em que se consome muito mais Prozac que Balzac.
Amanhã é aniversário do escritor francês. Só não sei se devemos acender uma velinha ou atear fogo a alguma ideia.
* Crônica originalmente publicada no Jornal de Santa Catarina, no dia 19 de maio de 2011.
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