sábado, 30 de agosto de 2008

Emanuella e Leonardo

Era a segunda vez que ela entrava por aquela porta. No grande candelabro que pendia do teto, as luzes despertaram iluminando a sala. Emanuella pôde rever o lugar onde tudo começara. Os quadros na parede, o piso claro contrastando com os sofás negros estampados onde ela estivera sentada da última vez. Leonardo fechou a porta fazendo-lhe sinal para entrar. Ela sentou deixando de lado a bolsa, observando com o canto do olho ele se aproximar e parar na sua frente, de pé. Ela levantou a cabeça aparentemente meio tímida, mas com um sorriso maroto nos lábios, ajeitando o cabelo atrás da orelha. O rapaz a olhava sorridente e, tomando-a pela mão, fez com que levantasse.

— Não quer ficar na sala? Ela perguntou sorrindo nos olhos dele.

— A sala você já conhece, você não queria ver a minha biblioteca?

— Aquela que você disse que ficava na estante ao lado da cama? Falou piscando com malícia.

Ele apenas sorriu e, de mãos dadas com ela, saiu pela porta rumo ao corredor que levava ao interior da casa. Pelo corredor, cruzaram a cozinha e logo depois uma porta fechada. Vendo que o olhar de Emanuella se deteve ali, Leonardo antecipou-se:

— É o porão. Não tem nada demais. Nada que você vá gostar de ver, de qualquer forma. Só coisas sem valor e pouca luz. Ele disse, enquanto passavam por uma escada que levava ao sótão.

— Uh! Um sótão! Sou apaixonada por sótãos. Acho tão legal.

— Mesmo? — ele perguntou — Eu também! Mas agora ele tá um pouco bagunçado. Muita coisa velha. Tenho que tirar um tempo pra fazer uma boa faxina e abrir espaço pra móveis novos.

— Sei... E um dia você me mostra? Ela perguntou com os olhos brilhando.

— Só se você se comportar, Ema. Ele brincou em resposta.

Ela aproximou o rosto dele, desafiante, e perguntou: — E se eu não me comportar, Leon...

Antes que ela terminasse a frase, ele a tomou pela cintura e cingiu-lhe os lábios com um beijo ofegante, intenso. Quando os lábios se afastaram ela aproximou a boca do ouvido do rapaz e sussurrou: — Você não ia me mostrar a sua biblioteca?

Ao atravessar a porta no final do corredor, ela conheceu o quarto. Um armário simples em uma parede; no centro uma grande cama de casal, guarnecida por apenas um criado mudo e, na outra parede, ao lado da cama, uma estante de madeira branca bem acabada, destacando o colorido das capas de livros. Ela aproximou-se devagar da estante, sentindo as mãos de Leonardo tocarem-lhe o vestido sobre os quadris, e seu respirar logo atrás de si, arrepiando-lhe a nuca delicada.

Ela percorreu com o dedo, de cima a baixo, a lombada do Madame Bovary, lembrando das piadas daquele primeiro encontro e sentindo o zíper escorregar-lhe pelas costas, da nuca até a cintura, mimentizando o movimento que fazia no livro. Sentiu na orelha o hálito quente, ouvindo baixinho a respiração de Leonardo, enquanto o vestido escorria-lhe pelo corpo, pousando no chão. A pele arrepiou-se sentindo o homem às suas costas e todos aqueles tantos, na estante, a sua frente. Desvendando-lhe a nudez da lingerie que despencava do corpo indo unir-se ao vestido aos pés da estante. Ela com as mãos passando pelos livros, descobrindo-lhes as capas, enquanto ele, também com as mãos, percorria-lhe o corpo, descobrindo-lhe os segredos. Ela, que estava diante de tantas histórias, sentia-se cada vez mais envolvida pela sua. Sentiu o jeans roçar-lhe a coxa enquanto descia, e sentiu-o passar pelas panturrilhas a caminho dos tornozelos de Leonardo. Pousou as mãos da estante, em suspense, tocando com os dedos o Marquês deslumbrado por seus Crimes de Amor. Passaria ele cento e vinte dias assistindo aquele corpo arrepiado, de seios eriçados nus oferecendo-se a ele. Emanuella sentiu o rijo contato com um arrepio, inclinando os seios de menina quase a tocar o rosto de Nabokov, provocando o russo, entregando-se ao brasileiro. Leonardo lhe cingiu as ancas com as mãos enquanto ela lhe cingiu o falo com o sexo quente. Entregaram-se um ao outro, ritmados, envoltos por tantas histórias; ela sendo possuída por todas. Uma das mãos lançadas atrás, agarrada à coxa do consorte, enquanto a outra já apertava Sade com força crescente, que se deleitava sob as unhas da espanhola. No pescoço, sentia os dentes de Leonardo em contraste com os lábios macios, e o roçar de uma barba de três dias. Do alto, invejoso, Stoker empoleirava-se gótico, qual gárgula sedento. Olhando por sobre o ombro, Emanuella matou a própria sede dos lábios de Leonardo. Lábios nos lábios, línguas nas línguas, sexos nos sexos. Ela pressionada entre o brasileiro e todos aqueles na estante, num ritmo cada vez mais intenso. Os dois ofegantes, provocando todas aquelas histórias com a sua, muito vívida, mais quente, mais úmida. Com mão lançada para trás tocou o abdome do rapaz afastando-o. Apenas espaço e tempo suficientes para virar-se de frente para ele e puxá-lo de volta de encontro aos seus seios. Os corações batendo-se um contra o outro, precisos, velozes. Os sexos, separados, se reencontraram num beijo úmido, as línguas se abraçaram nas bocas quentes. E pernas espanholas envolvendo a cintura que retornava para ela. As mãos dele agarrando lhe as coxas enquanto suspendia o corpo pressionado à estante. Às nádegas ofertadas a um velho safado que se divertia com as crônicas daquele amor louco, enquanto, ao seu lado, três meninas perdidas saiam dos quadros de Moore para acrescentar mais aquela história as suas.

A estante tremia com os amantes, todos num mesmo ritmo. Cada vez mais intenso, cada vez mais acelerado, com um balançar frenético que expeliu os livros. Emanuella com braços e pernas envolvendo Leonardo sentia escorrer os livros ao chão, a estante aliviada, as capas abertas, ouvindo apenas o arfar satisfeito da realização dos amantes. Ela no colo dele, ele envolvido por ela. Ambos cercados por uma história que não caberia em nenhuma estante. Não caberia em nenhum livro. Não caberia naquela noite. Nem em mil e uma outras.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cansei de ser pedante.

Cansei de ser pedante.
Vou ser tosco e desregrado.
Beber Bukowski e cheirar dos Anjos.
Rasgar o verbo na sarjeta literária.

Vou acordar no beco com o beijo dos cães.
Ter versos cantados pra putas de tetas caídas.
Vou vender o Kafka que me restou,
pra comprar um cigarro avulso e literatura de quinta.

O clássico ficou velho. Caduco.
Não me emociono mais com um mictório qualquer,
nem com um neólogodepalavrasgrudadas.

Com o verbo tosco que me resta,
serei pequeno e medíocre.
Vou mandar o mundo,
a arte,
à merda.

E andar fedido pelos becos até que um mendigo me deite veneno ao ouvido.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Os Irmãos van Loon (ou A Mulher de Prata)

O verão belga era agradável. O sol esquentava sem tornar-se demasiadamente quente. O clima de euforia e as cores e festejos e esperanças e sonhos transbordavam. E o mundo, que deixava as marcas tristes e monocromáticas de uma guerra, hasteava uma bandeira branca, com cinco anéis coloridos. Uma bandeira jamais vista, em nação alguma. Uma bandeira para todos. Sob ela, nove homens, um sonho, um objetivo. Dourado como o sol do verão belga. Como os cabelos da bela moça que, da arquibancada próxima, assistia as disputas mais acirradas. O olhar percorrendo os corpos de músculos suados expostos. Homem a homem. Ela conferiu cada um dos competidores, uns atrás dos outros de um lado. Uns atrás dos outros do outro. Entre eles, apenas a corda estendida, tensionada, disputada pelos dois times. Os últimos homens da delegação dos Países Baixos eram os van Loon. Envergando juntos o azul, branco e vermelho, eram a âncora que suportava a equipe, enquanto os outros se encarregavam de puxar para si a corda e, com ela, os adversários. Eles sabiam que, se quisessem se sagrar campeões, teriam de confrontar-se com as suas próprias cores, a favorita Grã-Bretanha, finalista das últimas olimpíadas. Mas eles tinham a âncora holandesa. Os irmãos van Loon. Willem e Antonius.

Mas quiseram os deuses olímpicos que o sol brilhasse nos cabelos louros daquela moça. E que seu olhar se detivesse sobre os van Loon. E entre os jogos, ela se encontrava secretamente com Willem e com Antonius, sem que um soubesse do outro. E quiseram os deuses que, inspirado pelos anéis estampados na bandeira branca, Willem lhe propusesse também um anel. Casar-se-iam, conforme os planos do van Loon mais velho, após os jogos, e ela retornaria com ele para os Países Baixos. Mas a moça, confusa e ofuscada pelo esplendor dos atletas, apaixonada por ambos, prometia-se também ao mais moço dos irmãos. Propusera-lhe Antonius que ficassem juntos após os jogos. Ele ficaria na Bélgica com ela, para muitos outros verões, deixando que a delegação retornasse sem ele à terra natal. E foi o fio louro de cabelo que acabou com a âncora holandesa. A maior esperança do cabo-de-guerra dos Países Baixos perdeu-se na disputa, não pela vulgar corda olímpica, mas pelo delicado fio sedoso dos cabelos de uma belga.

A moça não conseguia decidir-se entre apenas um dos irmãos. Eles, apaixonados e cegos pelos radiantes cabelos ensolarados, cravam-se como âncora no solo e angariavam vitórias no torneio, junto com seus companheiros. Finalmente a grande final se pintou toda de azul, vermelho e branco. De um lado, a equipe britânica, do outro, os Países Baixos. Entre eles, uma corda. E uma mulher. A moça de cabelos cor de ouro sentou-se na primeira fila para torcer por seus amantes. Sorrindo-lhes e acenando, ambos tomavam para si os gestos. Mas quiseram os olímpicos que a moça de cabelos de ouro, tornasse-se a mulher de prata. E foi, ironicamente, o anel de ouro na mão da moça, que tirou o ouro da mão dos van Loon. Com o sol batendo-lhe nas madeixas louras, ela levantou a mão e, sorrindo, fez com a cabeça um sinal afirmativo que abriu um sorriso imediato no rosto de Willem, cuja alegria lhe rendeu forças para cravar-se ainda mais profundo no solo, selando qualquer chance dos britânicos moverem-no. Com isso o time dos Países Baixos retomou a ofensiva, puxando os adversários e arrastando-os com a corda. Mas o sorriso de um van Loon, foi a desilusão do outro. Ao perceber sua derrota para o irmão mais velho, ao perceber que perdera sua amada, Antonius perdeu também as forças. Partiu-se então a âncora holandesa, e afundou o sonho dourado. A mulher de prata assustou-se ao ver os britânicos arrancarem os seus desafiantes do chão e, com corda e adversários puxados para o seu lado do campo, sagrarem-se campeões do cabo-de-guerra das Olimpíadas de 1920. Mais assustada, ficou a moça ao ver seu futuro marido aturdido sob os punhos e insultos do irmão mais novo. Assustou-se ainda mais quando a violência generalizou-se na arena, entre o próprio time. Amargurou-se quando Willem, sabendo de tudo, desistira do casamento.

A lembrança do ouro perdido dos van Loon restou cintilante no dedo da mulher de prata. Desde então, nunca mais houve outro campeão de cabo-de-guerra nos jogos olímpicos.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Poesia Twist. Poemas com um toque de limão.

Quando eu era bem mais novo, havia um limoeiro em minha casa. Pequeninho, mas dava uns limõezinhos. E lá ia eu, catava um limão e, não muito esperto, chupava. Era azedo. Não tinha jeito de chupar aquilo sem fazer careta. E se tinha um corte ou uma afta na boca, pior ainda. Aquilo ardia como os diabos. E o pior é que depois de tudo isso, não tinha como não repetir o processo. E eu ficava ali. Chupava o limão azedo, fazia careta, ardia, mas continuava. Excluindo-se a possibilidade de eu ter sido uma criança não muito esperta ou possíveis tendências masoquistas, é mais ou menos isso que aconteceu quando comecei a folhear Falações, livro de poemas de Marcelo Labes.

Não foi fácil ler Falações sem fazer careta. Labes destila um suco ácido e, com freqüência, azedo. E eu cá com minhas aftas e cortes, volta e meia senti arder os versos do autor. Falações se divide em quatro momentos distintos. Altenatintas abre com o solitário Até Quando e já pincela os primeiros elementos melancólicos que vêm se repetir mais tarde, e lembra, com uma escada 'reta em caracol', que “não se pode voltar atrás / quando se diz que ama”. Fiação e Tecelagem traz a acidez na leitura da vida operária “de 8 horas trabalhadas / e 16 de aflição” que termina com “casa na praia encostada / carro do ano passado / e plena realização: / artrite artrose bursite / aposentadoria e caixão”. É seguido pelo azedo Manhã, difícil de engolir como a constatação “Por que não respondes? / Meu Deus, / estás fria!”. No capítulo se destaca ainda O Barco, que atenta em letras garrafais “NUMA CIDADE VITRINE / FORA DE TOM É PECADO”, num retrato de um barco que “porque não navega / não pode ser afundado”. Este poema, ao lado de Fiação e Tecelagem, torna difícil sair de manhã e não rever suas linhas na nas ruas da cidade. Mas ainda assim, tudo parece passar voando, quase despercebido pela maioria. Como descobre Passarinho com seu final seco e despreocupado “Que foi isso? / e virou-se para o lado. / Passarinho na janela, / disse ela”. Assim fica mais fácil concordar com o narrador em Bi-bap-dera-nudara, que pede: “Acende, Maria, o pavio / e deixa a vida explodir”. O capítulo encerra escarrando suas verdades, tentando aparentemente expeli-las, livrar-se delas com Expectorante, que tenta com força “Cuspir fora saudade, lembranças. / Cuspir fora saudade, tristeza. / Cuspir e ver escorregar. / Verde”.

Em Reflexscintos destaco o lírico Canção que parece, junto com Sapiência Cartesia uma tentativa do autor, não em definir-se, mas em encontrar-se. Chamou-me a atenção o fato de que, nos dois poemas, o poeta o é, através dos outros, nunca de si mesmo. Em Canção “Eu me chamo aquilo que dizes”, “Eu me chamo o nome que vais dizer”, “Eu chamo / a tua alegria / ao repetires o som / do meu nome” e em Sapiência Cartesiana “E os que me querem saber / acabam me sendo. / Sou todos os que me sabem eu”. O poeta, procurando encontrar-se, perde-se (ou finalmente encontra-se) no leitor. O autor deixa-se arrebatar novamente pela estética crua, curta e grossa no impactante In Vitro que encerra o beijo com trinta e dois dentes quebrados. A saudade também deixa sua acidez em Ontem e Simplificante, uma saudade que arde como limão em boca machucada.

Febres traz uma série de dez poemas. O capítulo tem, evidentemente, certa unidade semântica e mesmo estética, mas esta é solta, flertando com o son sense, os poemas bastante independentes. Dentre as febres de Labes, chamo atenção para Febre#07 onde o tornar-se adulto é chato mas sem remédio, Febre#08 com o poeta em busca do grande poema, mas termina entregando-se “escreveria o grande poema / se soubesse por que”. O ótimo Febre#10 retorna com toda a acidez e inunda nossas chagas com o ardor da constatação: “Caíram-me os pêlos, / a origem insiste. / Bicho”. Febre#12 retoma o ataque ao “Produto financiado / por bandas de rock inglês / e poetas franceses / que não compreendes”.

Por fim, intransiGENTES, encerra os capítulos num apanhado da obra. para paula (assim, em minúsculo mesmo) brinca com as palavras “plantandolorosamente um canto”. O Filósofoso “Tentou viver de idéias / e morreu de fome” e acabou por “pôr para fora as verdades / que só a ele pertenciam, e mais ninguém”. Em Iminência percebe-se “Que não valia a pena / viver sob certas iminências” e nos afogamos junto com os personagens. Mas em Findados o narrador ensina: “Vós, que morrestes, o mundo, / o mundo é sempre dos vivos”. E retoma com Cíclico sobre aqueles que se deixaram afogar: “(e há uma semana enterrado, / o que terá pensado / quando o primeiro verme matutino / veio lhe perfurar a coxa)”. Ainda assim Fatalidade parece lembrar que esse mesmo afogamento é inevitável: “Causa mortis: afogamento: não parava de chorar.” Retomando estas constatações Ratos encerra rápido, dinâmico (quase musical) e ainda ácido um apanhado de verdades roídas e a presciência “Vai ter pesadelo, filhinho / e acordar com a cara inchada”.

A obra conta ainda com um ensaio de José Endoença Martins, localizando Labes dentre os poetas blumenauenses. Vale a pena ler até para descobrir novos nomes da poesia de Blumenau.

Ao espremer Falações, o leitor deve também se deparar com o mesmo sumo ácido que me chamou a atenção. E cuidado: se você também tiver algumas fissuras, a leitura pode lhe arder à boca. Se há algo de doce em Falações — e há, se dúvida — serve para aumentar o contraste com a acidez da obra. Mas se você for como eu, vai perceber que não é tão fácil largar Falações, mesmo fazendo careta. Talvez a resposta não esteja impressa no livro, mas uma pista descobri na página de rosto. Adquiri o livro do próprio autor, no lançamento, com o devido autógrafo e dedicatória. Como de costume, só li a dedicatória em casa, quando fui dar as primeiras folheadas no livro, no dia seguinte. E lá estava, na caligrafia de Labes: “Eu insisto: há que se escrever, há que se escrever mais. Vamos, então, adiante”. Talvez seja isso. Ainda que tenhamos o azedume e a acidez dos limões, é preciso escrever. É preciso ler. Afinal, como dizem por aí, se a vida nos dá a acidez dos limões, façamos, pois, limonada. Ou poesia.

sábado, 2 de agosto de 2008

Por/quês

Meus porquês estão todos partidos.
Fragmentados, com os erres cada vez mais distantes dos quês.
Já não me restam porques unidos. Estes rareiam e logo se separam.
Meus sólidos porques tornaram-se frágeis por ques.
Migalhas questionáveis, incertas. Migalhas duvidosas esses meus por ques.
Dos fortes ancestrais, pouco restou.
Alguma semelhança física, uns poucos traços em comum.
Eis que minhas certezas se precipitam no espaço entre duas letras.

Entre duas letras cabe um mundo.