Selenita tem o prazer de ser lançado bem representado. Esse é o texto da orelha do livro, escrito por Viegas Fernandes da Costa. Chega de introdução. Sigo com as palavras de Viegas.
Selenita
Selena, aquela que “rodopiava pela grama sem espantar o orvalho”, tão leve, “orbitava a vida, de saia rodada rodando o mundo”. Eis a palavra sensível de Rodrigo Oliveira, capaz de perceber Selena onde todos percebemos multidão, capaz de notar um moinho “em um tempo que já não enxerga gigantes”. Nestes dias que correm, de tantas palavras ocas, Rodrigo é Quixote que se entrega, tal qual um dos seus personagens, à sopa de verbo ainda que na pobreza de víveres, e assim sabemos, soledade, da existência de velho Genaro, apaixonado por Cida, no Cine L’Amour. Amor pornô? – indagamos. E a resposta nos surge como uma Macabéa travestida de senhor, de cinema, de saudade. “Selenita” – primeiro livro de Rodrigo Oliveira – nasce assim sob o signo do engenho e da sensibilidade. O engenho de Maira Maíra, que “mastigou mato maligno, minguando muda”, e a sensibilidade de um narrador capaz de ouvir os homens do mar, atracados na praia e na miragem.
Os 21 contos que compõem “Selenita”, distribuídos em dois “quinhões” – o primeiro, cartografia da alma; o segundo, engenharia narrativa – , apresentam-nos um autor que surpreende com seu universo temático e o requintado uso da palavra. Em alguns contos somos desafiados a um jogo, como quando perguntados a respeito do protagonista (“quem é o protagonista?”); em outros, o convite ao inusitado e ao extraordinário. Neste pêndulo, Rodrigo nos convida a conhecer a árvore de Herr Voss, acomodados sobre as possibilidades de um Fokker Dreidecker, “a estática do ar passando ligeiro por suas asas”; bem como nos remete ao já distante ano de 1920, onde os “Irmãos Van Loon” competiam pelos Países Baixos o cabo-de-guerra nas Olimpíadas. São textos mágicos estes de Herr Voss, Van Loon! Textos de uma tradição narrativa que um dia quase perdemos em meio aos tantos experimentalismos literários, mas que “Selenita” nos devolve com a força da criatividade e da fabulação. A mesma fabulação que nos coloca em suspenso aguardando as sete badaladas, ou investigando gárgulas no interior campestre de uma França que não mais cremos, mas que está lá!
Há de se fazer a travessia, Leitor, neste principado de um livro pleno! Há de se tomar “o último café de Peter”. O convite está feito, e vale a pena!
Escritor e Historiador