sexta-feira, 22 de novembro de 2013
O fado mais triste
O fado mais triste
eu quero
o fado mais triste
que ainda existe
no Porto ancorado
numa taça em riste
um vinho encorpado
mas antes de tudo
o mais triste fado
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sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Amemorias
De Audrey Kawasaki, como não poderia deixar de ser. |
Naqueles dias, naqueles rostos, naqueles sonhos em que retornam as memórias mais queridas daquilo que nunca vivi, é difícil não fantasiar um outro tomar de rumo, um passado não passado, deixado para trás em páginas apergaminhadas de tempo e lembranças. Reminiscências de possibilidades à margem, que me acenam nostálgicas. Parecem compreender, não se ofendem. Sorriem seus sorrisos mais carinhosos de adeus, de até mais ver. De até a próxima esquina distante em que o Acaso achar por bem nos atirar por breves instantes, antes que continuemos por nossos caminhos. Nesses dias de abraços coloridos, eu fico meio blues.
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sexta-feira, 4 de outubro de 2013
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Valquíria e a última serpente
Em dezembro passado, o Jornal de Santa Catarina solicitou-me um conto curto para o caderno especial sobre o fim do mundo, teoricamente previsto pelo calendário maia. Naquela oportunidade, o texto remetido e que saiu no jornal foi A Primeira Pedra. Eu havia escrito, no entanto, um outro que nunca foi apresentado. Mexendo nos arquivos acabei esbarrando com ele novamente. Coloquei-lhe um título e deixo-o aqui para dar uma atualizada:
Valquíria e a última serpente
Quando Valquíria acordou, pressentiu que algo havia mudado.Estava ainda sonolenta quando lembrou-se. Levantou ligeiro, o sol mal tinha saído, ao contrário do marido que saíra já há algumas horas para chegar a tempo ao trabalho. Calçou as pantufas rosas com florzinhas desgastadas, fechou o roupão com um nó apertado e correu até a porta. Assustou-se com o que viu. O mundo estava, de fato, terminando. Era como se tivessem retirado a fina película que cobria a realidade. Não havia muito que ela reconhecesse como antes. Olhou com certo desprezo as próprias mãos, tornadas garras depois dos anos de trabalho repetitivo nas máquinas de costura. Portão a fora viu o vizinho acuado pelo próprio carro que, feito uma besta, abria e fechava o capô, um ronco seco do motor e um brilho doentio nos faróis. Fumaça escura a nublar a cena. Fugiu, deslocada, em direção ao centro da cidade, evitando os transeuntes trôpegos. Na praça, um punhado de pessoas se acotovelava ao redor de uma fonte que jorrava para o alto rajadas de comprimidos multicoloridos. Chegando na avenida à beira rio viu, na outra margem, o velho barco tombado. Agora percebia, pelas fissuras no casco, que já estava podre e corroído por dentro havia muito. Foi quase sem fôlego que conseguiu atingir, ainda desnorteada, a ponte de ferro no final da rua. Começou a cruzar a construção se afastando do caos e, lá no meio, bem acima do rio, viu sua sombra descabelada projetada nas águas e entristeceu-se. De repente, percebeu uma outra forma avultar-se lá embaixo, logo abaixo da superfície do rio. Um corpo longo e serpentiforme. Apenas uma enorme e sinuosa sombra passando sob a água. O vento tentava sem sucesso afastar o som das sirenes e do caos. Valquíria subiu no parapeito. Viu uma de suas pantufas planarem lá do alto, sem destino, acima das águas. Atirou-se e caiu com um estrondo no rio. Depois de alguns segundos apenas, com um estrondo ainda maior, ergueu-se das águas uma enorme serpente emplumada. No seu dorso, agarrada às plumas, vinha montada Valquíria. Cabelos molhados em desalinho, roupão aberto, o pijama velho colado aos seios flácidos. E um sorriso descabido singrando a face. Cavalgava a serpente do fim do mundo.
Valquíria e a última serpente
Quando Valquíria acordou, pressentiu que algo havia mudado.Estava ainda sonolenta quando lembrou-se. Levantou ligeiro, o sol mal tinha saído, ao contrário do marido que saíra já há algumas horas para chegar a tempo ao trabalho. Calçou as pantufas rosas com florzinhas desgastadas, fechou o roupão com um nó apertado e correu até a porta. Assustou-se com o que viu. O mundo estava, de fato, terminando. Era como se tivessem retirado a fina película que cobria a realidade. Não havia muito que ela reconhecesse como antes. Olhou com certo desprezo as próprias mãos, tornadas garras depois dos anos de trabalho repetitivo nas máquinas de costura. Portão a fora viu o vizinho acuado pelo próprio carro que, feito uma besta, abria e fechava o capô, um ronco seco do motor e um brilho doentio nos faróis. Fumaça escura a nublar a cena. Fugiu, deslocada, em direção ao centro da cidade, evitando os transeuntes trôpegos. Na praça, um punhado de pessoas se acotovelava ao redor de uma fonte que jorrava para o alto rajadas de comprimidos multicoloridos. Chegando na avenida à beira rio viu, na outra margem, o velho barco tombado. Agora percebia, pelas fissuras no casco, que já estava podre e corroído por dentro havia muito. Foi quase sem fôlego que conseguiu atingir, ainda desnorteada, a ponte de ferro no final da rua. Começou a cruzar a construção se afastando do caos e, lá no meio, bem acima do rio, viu sua sombra descabelada projetada nas águas e entristeceu-se. De repente, percebeu uma outra forma avultar-se lá embaixo, logo abaixo da superfície do rio. Um corpo longo e serpentiforme. Apenas uma enorme e sinuosa sombra passando sob a água. O vento tentava sem sucesso afastar o som das sirenes e do caos. Valquíria subiu no parapeito. Viu uma de suas pantufas planarem lá do alto, sem destino, acima das águas. Atirou-se e caiu com um estrondo no rio. Depois de alguns segundos apenas, com um estrondo ainda maior, ergueu-se das águas uma enorme serpente emplumada. No seu dorso, agarrada às plumas, vinha montada Valquíria. Cabelos molhados em desalinho, roupão aberto, o pijama velho colado aos seios flácidos. E um sorriso descabido singrando a face. Cavalgava a serpente do fim do mundo.
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Rodrigo Oliveira
quarta-feira, 17 de julho de 2013
este café com gosto de saudade
esta tarde engalanada de lembranças
e um balão
cheio do ar quente dos pulmões
flanando por vielas e cafés.
Puta tarde de sorrisos.
esta tarde engalanada de lembranças
e um balão
cheio do ar quente dos pulmões
flanando por vielas e cafés.
Puta tarde de sorrisos.
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sexta-feira, 28 de junho de 2013
Duas feiras e uma carência
Há umas semanas peguei o carro e resolvi aproveitar o fim de semana ensolarado para visitar as feiras do livro de Timbó e Jaraguá do Sul. Saí de Blumenau e, como de costume, me perdi mais uma vez em Timbó antes de encontrar a praça onde estava feira. Não que tenha sido muito complicado, é uma tradição minha perder-me pelas ruas de Timbó. Tradição que não pretendo manter, mas tem sido difícil evitar. De qualquer forma, a feira de Timbó opta pelo formato de Feira de Rua, com as tendas montadas na praça. Como esse ano não me inteirei das programação das feiras, fiz uma visita despretensiosa e sem planos. Cheguei após os painéis/palestras terem terminado. Ainda haviam alguns autores reunidos em um canto — identifiquei Alcides Buss, os demais não reconheci — mas não havia uma programação ocorrendo no momento. A estrutura me pareceu bastante adequada. À entrada passei pelo que parecia o núcleo da feira. Um corredor principal ladeado em toda a sua extensão por estandes de sebos e livrarias, expondo e comercializando livros novos e usados. Os preços ao meu ver variaram de próximos aos valores de livrarias a grandes pechinchas, encontrando alguns bons livros (em bom estado) a partir de R$ 2,00. Pareceu-me haver um certo equilíbrio na oferta entre a literatura infantil e a adulta, com um número razoável de crianças que também circulava acompanhadas dos pais. Ao fundo desse corredor, uma área perpendicular abrigava um auditório e o espaço de alimentação. Ambos bem dimensionados e dispostos. Uma detalhe que pareceu não funcionar na feira de Timbó foi o Troca-Troca (ou algo que o valha, não lembro o nome precisamente). Ao que parece foi criada uma mecânica em que as pessoas deveriam levar um livro, previamente, à biblioteca ou Fundação Cultural e daí ganhariam um vale para trocar por um livro no estande da Fundação. Aparentemente o fracasso da iniciativa se deu por uma falta de comunicação da mecânica da ação, visto que os visitantes estavam indo diretamente ao estande com seus livros para a troca e não puderam efetuá-la.
Tendo visitado a feira de Timbó na parte da manhã, à tarde rumei para Jaraguá do Sul. Percebo que a cidade vem se desenvolvendo culturalmente a passos largos, deixando um exemplo não só para as cidades vizinhas do vale do Itapocú, mas igualmente para Blumenau. Detalhe interessante, é que fui muito menos vezes para Jaraguá do que para Timbó. Não conheço a cidade, mas encontrei facilmente o local, que estava muito bem sinalizado por quase todo o percurso. O evento jaraguaense me pareceu consolidado. O local escolhido foi a SCAR — Sociedade Cultura Artística — usando a mesma estrutura de tendas encontrada em Timbó. Optando por vincular a feira à SCAR, ao contrário de um feira de rua na praça, por exemplo, a feira jaraguaense contou com uma estrutura de apoio que contava com mostra de filmes, exposições e gerou a aproximação do público com o espaço cultural. A disposição dos estandes em Jaraguá foi um pouco diferente da feira timboense. Mais abertos, "cercavam" um pequeno palco central (e um estande de alimentação e souveneirs, eu acho) onde aconteciam, em intervalos regulares contações de histórias. O sistema de som mantinha informados os visitantes com constância. No caso de Jaraguá, a feira pareceu ter um volume maior de crianças e literatura infantil. O acervo de livros e preços foi, no geral, similar a Timbó, pelo que me lembro. Nas duas feiras encontrei bons títulos a preços interessantes que acabei levando pra casa. Os estandes das editoras locais (ao menos me pareceram) me chamaram mais a atenção em Jaraguá do Sul do que em Timbó. Creio que alguns dos expositores estavam em ambas as feiras, o que me pareceu interessante. Jaraguá trouxe nomes de peso para a feira, mas como na minha visitação matinal, fui sem planos e não aproveitem nenhum palestra, discussão ou o que fosse. O único autor que vi circulando (lembrando que a maioria eu nem poderia identificar) foi Carlos Henrique Schroeder, que se não me falha a memória, estava organizando o evento.
Enfim, o saldo foi positivo e ambas as feiras pareceram comprovar que há espaço para esse tipo de eventos. Nos dois casos estavam bem movimentadas, encontrei carros de diferentes cidades e a estrutura me pareceu adequada. Não tenho números da feira de Timbó, mas os dados da feira jaraguaense apresentam mais de 80 mil visitantes de quase 40 cidades diferentes e mais de 60 mil livros vendidos. Dado que chama a atenção é que uma das cidades que mais visitou a feira foi justamente Blumenau. Uma cidade que carece de uma feira consistente e que parece ter público para tanto. Mas na falta da atração em sua cidade, migra para as feiras de cidades próximas, seja Jaraguá, Timbó ou Brusque.
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segunda-feira, 17 de junho de 2013
Junho de 2013
Junho de 2013
Não tome o meu silêncio
como descaso.
Não o tome, tampouco, por um confortável não-saber.
Acima de tudo, peço,
não o tome como contrário.
Meu silêncio é apenas de embaraçosa vergonha
pelo meu silêncio.
Assim, silencio na esperança
de que em meio ao alvoroço
não ouças meu silêncio.
Sem ruído emitir,
omito
a minha voz
imito
à minha vez
o silêncio que esperava ouvir ruir.
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sexta-feira, 15 de março de 2013
Encomenda
Encomenda
Quando lá chegares, envia-me um postal.
Diz ao rei que mando lembranças,
que sinto saudades.
Entalha, numa árvore, o meu nome junto ao teu.
E lembra o gosto do beijo não dado.
Olha aquela estrela, cruza aquela ponte, ouve aquele rio.
Deita na cama que escolheres e dorme aquele sono nunca dividido.
Faz-me assim um pouco lá.
Está tudo bem. Vai-te embora.
Mas lembra:
quando lá chegares, envia-me um postal.
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Rodrigo Oliveira
sexta-feira, 1 de março de 2013
Sorriso Hibernal
Sorriso Hibernal
Eu tenho um sorriso guardado
para usar apenas no inverno.
Quando chegar, o verão.
Poemito que saiu de um job e aterrissou aqui.
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