Lá vem o vermartista.
Cinzel ao encontro do poeta verborrágico.
Lá vem o verme vermorrágico.
Rastejoscultor, esculpecaminha-me
e xilogravura-me os restos rotos.
Descarnescarneia o cadáver meu,
e assina-me num arroto podre.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
domingo, 26 de outubro de 2008
Linguagem
não entendo o que falas
nesta tua língua
mas também, pouco importa
que não é falar que quero com a língua tua
falo-te na minha
língua
falo na tua
língua
na minha língua falo
que me basta a tua
na minha
porque as línguas são assim
as línguas se bastam
e desconhecem idioma
nesta tua língua
mas também, pouco importa
que não é falar que quero com a língua tua
falo-te na minha
língua
falo na tua
língua
na minha língua falo
que me basta a tua
na minha
porque as línguas são assim
as línguas se bastam
e desconhecem idioma
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Literatura - Verso,
Poema,
Rodrigo Oliveira
terça-feira, 14 de outubro de 2008
A Condição do Principado
Quando escrevi o Príncipe dos Suicidas, mais do que a própria história, o personagem me interessou. Tem algo o nele que me intriga. Acho que havia (e que ainda pode haver) algo mais, abaixo da supertfície do personagem. O texto todo foi inspirado por construções mitológicas repaginadas, mas assim, sem pesquisa e de cabeça, não consigo lembrar de nenhum correspondente ao Príncipe. Então, pra tentar entender melhor o infeliz, aproveitei o tema do Duelo de Escritores desta rodada pra revisitar aquele texto, aquele personagem. Queria desenvolver melhor a sua psique, buscando um pouco mais de dimensão e profundidade pra ele. Revisitando o texto, acho que pude resignificar alguns aspectos do Príncipe, talvez o próprio personagem. E com o novo visitante (que na verdade já aparecia discretamente no primeiro texto), mostrar um lado complementar da primeira história, tentando ainda, manter o diálogo e a importância do primeiro texto, inserindo o leitor, definitivamente na história e tentando um novo foco narrativo. Sem mais ladainhas segue o texto. Se vc quiser, pode lê-lo tb no Duelo de Escritores, sob o tema Condição, junto com o texto dos outros duelistas e votar no seu preferido até o dia 16.
Ainda te demoraste alguns minutos naquela última frase, com o restante das folhas manuscritas na outra mão. Não a lias mais, apenas a olhavas. O conteúdo, já gravado na memória confusa: “Mas o protagonista desta história, leitor, não sou eu”. Finalmente levantaste a cabeça para a figura do velho, retratada como há pouco havias lido, escorado numa das paredes de tora da casa. Quando falaste, a voz saiu-te baixa, mas firme. Uma constatação que, estranhamente, não foi tão pesarosa quanto esperavas:
— O protagonista sou eu.
O velho, na mesma jardineira parda descrita na carta, esboçou um leve aceno afirmativo de cabeça, mas interrompeu o movimento breve para ir até o fogão de pedra no centro da sala.
— O protagonista desta história já morreu — completaste. O velho não precisou responder.
Ficaste olhando as costas entroncadas e pensaste ainda que não lhe parecia bem um príncipe. Ele lançou-te um olhar ancestral por sobre o ombro, que não pudeste suportar. Desviaste os teus, inda jovens, para a porta, esbarrando-os na enxada afiada ao lado dela.
“Às vezes o grão despenca antes do tempo e não pode ser colhido pela foice. Aí vem a mim.” A passagem lhe veio à mente como se ainda a estivesses lendo.
— Então foi isso que me aconteceu? —Perguntaste à enxada ao lado da porta. Mas foi o velho junto ao fogão que te respondeu, virando-se para ti com as mãos ocupadas por duas xícaras fumegantes de metal:
— A você e a todos que passaram por aqui antes de você. Inclusive a quem escreveu essa carta.
— Inclusive a você? — Inquiriste já com uma das xícaras quentes nas mãos. Não sorveste o líquido. Sabias que poderias esperar até que esfriasse. Já sabias que havia tempo de sobra.
O velho parou à tua frente. Olhos fixos nos teus. Mas perdidos em um tempo muito distante, vago, nublado, como a fumaça branca que lhe escalava as barbas ralas. Ele se afastou, sentou noutra cadeira a alguma distância, inclinando-se para trás, equilibrado em dois pés do móvel, apenas.
— A todos que já estiveram aqui, respondeu.
— E como foi que aconteceu? Com você, quero dizer.
Ele pensou um pouco antes de responder-te. Ao que disse:
— Já não lembro. O tempo que passamos aqui, entre a névoa, apaga o aconteceu antes. Esqueci. Você também vai esquecer. Já está acontecendo.
Ele tinha razão, percebeste. A névoa que se instalava do lado de fora da casa no meio da mata, também se instalava em tuas memórias, já diáfanas, nada mais que um vulto acinzentado.
— E antes de você, havia outro Príncipe que o recebeu?
— Não — respondeu-te o velho — eu fui o primeiro dentre nós. O primeiro dentre todos. O primeiro grão a se precipitar antes da colheita. O primeiro a se apaixonar por ela. A desejar o beijo prematuro. Eu não podia esperar. Não havia tempo. Não queria esperar. E me precipitei. Quando saí das árvores, avistei o mesmo trapiche que você encontrou. Fui até o mesmo homenzinho que lhe trouxe aqui. E, pela primeira vez, eu a vi. A pele queimada, os olhos vibrantes, os ombros nus. Eu quis ir até ela, mas o homenzinho não deixou. Disse que eu não poderia fazer a travessia. Que ainda não era hora. Eu não podia ficar ali, meu nome não estava na lista, ele dizia. Não ainda. Tudo o que me restou foi esperar. Eu procurei um lugar pra esperar, aqui entre as árvores. Esperei até não agüentar mais essa névoa. Então construí essa casa. E continuei a esperar, aqui. Sozinho. O único da nossa espécie. O primeiro. Enquanto esperava, a lembrança dela me fazia companhia. Das mãos da camponesa, dos ombros nus de pele tisnada. Da cor do vestido, do jeito de olhar. Até que percebi que já não esperava mais a travessia. Esperava apenas ver a camponesa de novo. A Dama da Colheita. Um dia o homenzinho me achou aqui. Disse que tinha chegado minha hora. Que eu já poderia fazer a travessia. Finalmente eu poderia revê-la! Quando cheguei à margem, ela me recebeu. E conversamos por um bom tempo até a chegada da balsa. Mas quando chegou o momento, percebi que apenas eu faria a travessia. Ela teria de ficar ali. Eu jamais a veria novamente. Foi quando eu tomei a decisão. De ficar, para sempre, à margem. De jamais completar a travessia. De, para sempre, caminhar entre a névoa. Só pela chance de, vez por outra, tornar a revê-la, mesmo que não possa tê-la. O homenzinho não gostou. Disse que meu nome estava na lista. Que eu tinha que cruzar. “Nenhum nome na lista pode ficar, ninguém fora dela pode cruzar”, ele repetia. Mas outros como eu viriam. Outros como nós. Suicidas. Condenados a esperar. Nomes fora da lista. Alguém deveria aguardar por eles. Eis que me tornei o Príncipe dos Suicidas. O Portador da Enxada. Aquele que recolhe os grãos que se precipitaram antes da colheita. Que coleta com a enxada aqueles que a foice não alcança. Todos aqueles que se apaixonaram por ela, mas que jamais poderão a ter. Esse é o nosso Desígnio.
— Nosso? — Ainda perguntaste preocupado, tirando o velho dos seus desvarios. Ele respondeu, com um suspiro, ainda olhando as brumas pela janela.
— Não, nosso não. Eles, e você, todos cruzarão, a seu tempo, o rio. Ninguém pode viver à margem, sem completar a travessia. Apenas eu. À margem, entre as névoas, esperando, para sempre. Essa é a Condição. A Eterna Condição. Não há nós. Não para mim. Jamais haverá.
Em silêncio, guardaste a carta que leste, de outro que já estivera onde agora estavas. E compreendeste, olhando o líquido fumegante que embaçava os olhos do Príncipe. Há tempo. Há tempo de sobra. Tempo é tudo o que tem, o Príncipe dos Suicidas.
A Condição do Principado
Ainda te demoraste alguns minutos naquela última frase, com o restante das folhas manuscritas na outra mão. Não a lias mais, apenas a olhavas. O conteúdo, já gravado na memória confusa: “Mas o protagonista desta história, leitor, não sou eu”. Finalmente levantaste a cabeça para a figura do velho, retratada como há pouco havias lido, escorado numa das paredes de tora da casa. Quando falaste, a voz saiu-te baixa, mas firme. Uma constatação que, estranhamente, não foi tão pesarosa quanto esperavas:
— O protagonista sou eu.
O velho, na mesma jardineira parda descrita na carta, esboçou um leve aceno afirmativo de cabeça, mas interrompeu o movimento breve para ir até o fogão de pedra no centro da sala.
— O protagonista desta história já morreu — completaste. O velho não precisou responder.
Ficaste olhando as costas entroncadas e pensaste ainda que não lhe parecia bem um príncipe. Ele lançou-te um olhar ancestral por sobre o ombro, que não pudeste suportar. Desviaste os teus, inda jovens, para a porta, esbarrando-os na enxada afiada ao lado dela.
“Às vezes o grão despenca antes do tempo e não pode ser colhido pela foice. Aí vem a mim.” A passagem lhe veio à mente como se ainda a estivesses lendo.
— Então foi isso que me aconteceu? —Perguntaste à enxada ao lado da porta. Mas foi o velho junto ao fogão que te respondeu, virando-se para ti com as mãos ocupadas por duas xícaras fumegantes de metal:
— A você e a todos que passaram por aqui antes de você. Inclusive a quem escreveu essa carta.
— Inclusive a você? — Inquiriste já com uma das xícaras quentes nas mãos. Não sorveste o líquido. Sabias que poderias esperar até que esfriasse. Já sabias que havia tempo de sobra.
O velho parou à tua frente. Olhos fixos nos teus. Mas perdidos em um tempo muito distante, vago, nublado, como a fumaça branca que lhe escalava as barbas ralas. Ele se afastou, sentou noutra cadeira a alguma distância, inclinando-se para trás, equilibrado em dois pés do móvel, apenas.
— A todos que já estiveram aqui, respondeu.
— E como foi que aconteceu? Com você, quero dizer.
Ele pensou um pouco antes de responder-te. Ao que disse:
— Já não lembro. O tempo que passamos aqui, entre a névoa, apaga o aconteceu antes. Esqueci. Você também vai esquecer. Já está acontecendo.
Ele tinha razão, percebeste. A névoa que se instalava do lado de fora da casa no meio da mata, também se instalava em tuas memórias, já diáfanas, nada mais que um vulto acinzentado.
— E antes de você, havia outro Príncipe que o recebeu?
— Não — respondeu-te o velho — eu fui o primeiro dentre nós. O primeiro dentre todos. O primeiro grão a se precipitar antes da colheita. O primeiro a se apaixonar por ela. A desejar o beijo prematuro. Eu não podia esperar. Não havia tempo. Não queria esperar. E me precipitei. Quando saí das árvores, avistei o mesmo trapiche que você encontrou. Fui até o mesmo homenzinho que lhe trouxe aqui. E, pela primeira vez, eu a vi. A pele queimada, os olhos vibrantes, os ombros nus. Eu quis ir até ela, mas o homenzinho não deixou. Disse que eu não poderia fazer a travessia. Que ainda não era hora. Eu não podia ficar ali, meu nome não estava na lista, ele dizia. Não ainda. Tudo o que me restou foi esperar. Eu procurei um lugar pra esperar, aqui entre as árvores. Esperei até não agüentar mais essa névoa. Então construí essa casa. E continuei a esperar, aqui. Sozinho. O único da nossa espécie. O primeiro. Enquanto esperava, a lembrança dela me fazia companhia. Das mãos da camponesa, dos ombros nus de pele tisnada. Da cor do vestido, do jeito de olhar. Até que percebi que já não esperava mais a travessia. Esperava apenas ver a camponesa de novo. A Dama da Colheita. Um dia o homenzinho me achou aqui. Disse que tinha chegado minha hora. Que eu já poderia fazer a travessia. Finalmente eu poderia revê-la! Quando cheguei à margem, ela me recebeu. E conversamos por um bom tempo até a chegada da balsa. Mas quando chegou o momento, percebi que apenas eu faria a travessia. Ela teria de ficar ali. Eu jamais a veria novamente. Foi quando eu tomei a decisão. De ficar, para sempre, à margem. De jamais completar a travessia. De, para sempre, caminhar entre a névoa. Só pela chance de, vez por outra, tornar a revê-la, mesmo que não possa tê-la. O homenzinho não gostou. Disse que meu nome estava na lista. Que eu tinha que cruzar. “Nenhum nome na lista pode ficar, ninguém fora dela pode cruzar”, ele repetia. Mas outros como eu viriam. Outros como nós. Suicidas. Condenados a esperar. Nomes fora da lista. Alguém deveria aguardar por eles. Eis que me tornei o Príncipe dos Suicidas. O Portador da Enxada. Aquele que recolhe os grãos que se precipitaram antes da colheita. Que coleta com a enxada aqueles que a foice não alcança. Todos aqueles que se apaixonaram por ela, mas que jamais poderão a ter. Esse é o nosso Desígnio.
— Nosso? — Ainda perguntaste preocupado, tirando o velho dos seus desvarios. Ele respondeu, com um suspiro, ainda olhando as brumas pela janela.
— Não, nosso não. Eles, e você, todos cruzarão, a seu tempo, o rio. Ninguém pode viver à margem, sem completar a travessia. Apenas eu. À margem, entre as névoas, esperando, para sempre. Essa é a Condição. A Eterna Condição. Não há nós. Não para mim. Jamais haverá.
Em silêncio, guardaste a carta que leste, de outro que já estivera onde agora estavas. E compreendeste, olhando o líquido fumegante que embaçava os olhos do Príncipe. Há tempo. Há tempo de sobra. Tempo é tudo o que tem, o Príncipe dos Suicidas.
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Literatura - Prosa,
Rodrigo Oliveira
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Bibliogamia. Da adoração ao tesão por livros.
Antes de partir para o ensaio, é preciso atentar para alguns pontos. O texto a seguir traz apenas algumas reflexões descompromissadas. O leitor pode, então, encontrar imprecisões históricas ou mesmo reflexões equivocadas por falta de pesquisa. Esse texto é base para outro diálogo que pretendo, mas adiante, tratar aqui. Por hora ele ainda está em um estágio muito embrionário na minha cabeça e creio que as discussões que possam vir a surgir a partir deste ensaio possam desenvolver melhor a idéia. Portanto, comentários, correções e observações são, como sempre, bem vindas. Ao texto, pois:
Bibliogamia. Da adoração ao tesão por livros.
Reflexões sobre a importância do suporte para a literatura.
Reflexões sobre a importância do suporte para a literatura.
“O livro é um animal vivo”.
— Aristóteles
— Aristóteles
A relação do leitor com a narrativa ou, ainda mais primeiramente, com o texto, passa, invariavelmente pelo suporte deste último. Divido estes suportes em duas vertentes: o Suporte Intangível e o Suporte Tangível. No primeiro grupo, incluo os códigos simbólicos e lingüísticos que trazem e codificam o fato narrado ou a idéia expressa. Em geral, compreendem formas de alfabeto e de idiomas, que não interessam especialmente a este ensaio. No segundo grupo, de Suportes Tangíveis, incluo os suportes mais palpáveis, mais materiais, dos quais os suportes intangíveis fazem uso para chegarem até nossas mãos — ou olhos e ouvidos. Neste caso, apresenta-se uma gama de possibilidades: desde pixels numa tela brilhante, passando por lâminas de celulose banhadas em offset, páginas manuscritas amareladas nos códices antigos, peles de animais e compostos de plantas, até as pedras e paredes de templos ou cavernas(1).
Com o desenvolvimento e surgimento de novos suportes, que marcaram a história do livro e da própria sociedade universal, é natural que a relação do leitor com os textos tenha também se desenvolvido e se alterado com o decorrer destas mudanças. O livro ou, antes dele, o texto, tem sua relação com o leitor através do suporte. E é graças a esse suporte que a nossa relação com os textos mais diversos passou da adoração ao tesão. Novas plataformas e suportes trazem novas idéias a esse namoro e novas posições para a nossa bibliogamia.
O primeiro encontro do homem com a literatura escrita, em um Suporte Tangível, deu-se provavelmente sobre a parede de alguma caverna. A partir de elementos pictórios e icônicos, começou-se a criar uma representação simbólica(2) para transmitir as narrativas e idéias. O contato com esse texto, escrito sobre a pedra, era frio, áspero, imóvel. A posição de leitura era não era cômoda, não era prático (apesar de breve) o ato de ler. Esse primeiro encontro do leitor com o texto escrito estava ainda muito longe da relação atual, muito mais próxima e afetiva. Ainda assim, um certo fascínio já começava a compor o triângulo amoroso entre autor, texto e leitor. Começa, de forma tímida, o flerte da literatura.
Na antiguidade, o texto verbal escrito ganha corpo e se desenvolve. Os códigos usados são mais versáteis, muito mais apoiados em símbolos do que em ícones, permitindo um maior envolvimento do texto com o leitor e mais recursos ao autor. O suporte também se desenvolveu. Os textos deixaram a imobilidade das paredes das moradas e a narrativa ganhou um pouco de mobilidade nas placas e tabuletas de argila ou pedra. O leitor pode finalmente abraçar o texto. Apesar do peso dos suportes deste período, da dificuldade de se esculpir o texto sobre a pedra e cortar as tabuletas em tamanhos adequados, apesar da fragilidade das placas de argila sob impacto, os textos ganharam um suporte que permitiu mais interação na sua relação com o leitor. Mesmo com certas dificuldades, o namoro dos raros leitores com o texto torna-se mais palpável. O toque já é menos áspero e o flerte torna-se menos difícil. No entanto, o próprio suporte ainda dificulta o acesso à leitura e são poucos os que têm esse privilégio. Para a maior parte do público, o texto é ainda algo distante, uma presença difusa, cercada de ritos e cuidados, apenas acessível para uns poucos escolhidos. A literatura começa a tomar um ar quase sacro. E o que começava como um namoro tímido, passa a encaminhar-se para a adoração.
Ainda na antiguidade, a partir do século II A.C, a literatura ganha muito em mobilidade. As tabuletas minerais dão lugar aos papiros, suporte vegetal, feito à base de uma planta que era moldado em longas lâminas, que ultrapassavam os cinco metros de comprimento e poderiam ser enrolados em formato de canudo, facilitando o transporte e armazenamento. A figura do escriba já está bem estabelecida e a literatura começa a ganhar importância cada vez maior, ainda que com foco nos aspectos historiográficos ou de exaltação de divindades ou governantes. O relacionamento do texto com o leitor continua a ser de uma divindade adorada, não um parceiro a ser conquistado, de um relacionamento afetivo. A emoção envolvida restringe-se ao medo, à surpresa, à adoração. Além disso, o fato do contato do público com o texto escrito só ocorrer através de escribas e sacerdotes em rituais religiosos, não ajuda a reverter esse quadro. No entanto, o suporte já se mostra mais amigável. Mais leve, menor, mais agradável ao toque. Ele aceita mais facilmente as palavras do autor, relaciona-se de forma mais prazerosa com este. Já permite uma leitura mais agradável, mais confortável. Tanto na precisão dos tipos escritos, quanto na própria postura de leitura.
O papiro é posteriormente substituído pelo pergaminho. O vegetal dá espaço para o couro animal. O pergaminho dá ao texto uma durabilidade superior, permitindo que a relação do leitor e do texto perdure por mais tempo. Ainda que o relacionamento esteja ainda muito mais próximo de uma relação deus-adorador do que de amantes, a possibilidade de um relacionamento de longa duração já se torna aceitável.
O pergaminho é, pelos gregos e romanos, aos poucos, substituído pelos códex. As lâminas são agora agrupadas em volumes, não mais enroladas. Nos primeiros anos da Era Cristã, o suporte da literatura começa a tomar as formas que conhecemos hoje. O leitor passa, a partir de então, a relacionar-se com o livro. Mas não é ainda que o relacionamento se torna mais íntimo. Os códex são ainda frágeis, pesados, grandes e incômodos. A leitura normalmente ainda chegava ao público através de um terceiro, de um leitor “oficial”. Mas o suporte permite, mesmo em leituras públicas, uma proximidade um pouco maior do público com a literatura, e o texto parece, aos poucos, mais próximo dos leitores.
Como o livro era de acesso, normalmente, restrito aos indivíduos de grandes posses — nobres, clero, oligarcas — passa a ser também um símbolo deste status (além do poder de controle da informação e da História). Surge, mais evidentemente, o desejo pelo livro. Ao menos nas elites, a adoração começa a dar lugar a um relacionamento mais pessoal, mais próximo. O flerte parece querer retornar entre leitor e literatura.
Se, por um lado, a Idade Média Ocidental exaltou o aspecto da adoração do livro como algo sagrado através da influência do poder eclesiástico, por outro, começa a surgir a literatura vernacular européia, com o latim cedendo espaço para os idiomas nacionais. Enquanto a Igreja declara o livro como objeto sagrado ou profano, surgem esforços que dariam ao povo o poder flertar com o livro como um igual. Leitor e texto recomeçam a falar a mesma língua. E com a proibição da Igreja sobre muitas obras, o flerte começa a adquirir o sabor de romance proibido. Nesse ínterim, o suporte também ganha uma nova plataforma. O pergaminho passa a ser substituído pelo papel que, combinado com os monges copistas, amplia a produção literária (no que diz respeito à quantidade de volumes) em níveis até então não alcançados. Os leitores, entre adoração e desejo, passam a ter mais pretendentes. E entre adoração e desejo, entre a deidade e o amante, o livro começa a tomar ares de fetiche.
No ocaso da Idade Média, do outro lado do globo, surge a máquina chinesa que suplantaria o volume de produção dos monges copistas europeus. A prensa de tipos móveis oriental, feita em madeira, possibilitou um volume de produção em muito superior aos dos monges ocidentais. Com a nova tecnologia e o suporte adequado, os livros começaram a se espalhar devagar pelo globo.
Surgida no século XV, a prensa de Gutenberg está para a prensa chinesa como o pergaminho está para o papiro. A prensa de Gutenberg, com tipos móveis de metal, ao contrário dos de madeira chineses, propiciava a reutilização e maior precisão de impressão. Aliado a uma nova distribuição de poder na Europa, a invenção propiciou uma enxurrada de livros no continente, aumentando a produção de volumes e de criação literária. O livro, já envolto em vestes de fetiche, vai tomando formatos e acabamentos mais agradáveis. Leves, resistentes e práticos; de fácil leitura, armazenamento e transporte, o livro chegou às mãos dos leitores. O namoro distante passou a ser mais próximo e passional. O leitor podia envolver o livro e deixar-se envolver por ele. O relacionamento passou a ser mais íntimo. As grandes leituras públicas foram trocadas pelas leituras solitárias. Leitor e literatura, finalmente, conseguiram ficar a sós. O leitor conseguiu, em fim, levar o livro pra cama. Literalmente. E a adoração passou a tesão. De divindade, o livro passou a amante.
Hoje, com a demanda crescente e a ampliação do mercado editorial, as edições comemorativas, as reedições de clássicos ou bestsellers, as edições de luxo e as grandes tiragens apimentam ainda mais a relação entre leitor e literatura. O aspecto de fetiche do livro ganha ainda mais destaque e estimula ainda mais o desejo do leitor pelos volumes.
Mais recentemente, já a partir do fim do século passado, começam a surgir os e-books e os livros passam às telas dos computadores. Já tive a oportunidade de ler alguns livros de diferentes gêneros nessa nova plataforma. Livros relativamente curtos, livros bem mais longos, narrativas ficcionais ou ensaios científicos/filosóficos/não-ficção. Independentemente do caso, notei uma leitura mais lenta e mais cansativa na tela do que no papel. A mobilidade dos desktops também não é muito superior à das tabuletas de argila, e os laptops e notebooks suprem apenas em parte essa desvantagem. O peso é igualmente mais incômodo que o dos livros. A posição de leitura é bem menos versátil e, por conseqüência, menos cômoda que a dos livros de papel. O armazenamento, no entanto, é inúmeras vezes superior, visto que é mais fácil encher um HD de e-books do que uma estante de livros (tanto física quanto financeiramente). Mas, em contrapartida, se ficou mais fácil a aquisição e a guarda das obras, o leitor já não pode mais tocá-las, envolvê-las, sentir o cheiro das páginas, a textura das fibras, já não pode mais envolver o amante como antes o fazia. Em tempos de bibliogamia virtual, o fetiche perde força. Não seria então, em oposição à maior disseminação e acesso às obras, o e-book um retrocesso no relacionamento do leitor com livro? Esse novo suporte, ao mesmo tempo em que aproxima, distancia o leitor da obra. Teria este fenômeno a peculiaridade de promover um maior número de relacionamentos leitor-livros, mas de forma mais superficial, como muitos relacionamentos virtuais? Visto que este é um texto originalmente virtual, o que diz isto a seu respeito? Qual a sua relação, leitor, com esta Palavra? Acaso seria ela mais sedutora sobre o papel?
Com o avançar tecnológico, não duvido, questões como estas serão revisitadas. Os novos suportes, como modelos de PDAs, palmtops, celulares e e-book readers, as pesquisas na área de e-papers, rumam para retomar o relacionamento, estreitando novamente os laços com o leitor, buscando novamente dividir os lençóis com ele. Não creio, de forma alguma, que esse namoro corra qualquer risco. Mas a impressão que tenho é que essa é uma daquelas pequenas crises no relacionamento. E esse texto, ao que parece, pretende discutir a relação. Eu, leitor promíscuo que sou, levo pra cama livros tradicionais enquanto flerto com outros pelo computador. No fundo, talvez, muito além destas reflexões e independentemente do suporte, o importante seja não deixar faltar tesão.
Notas:
(1) É preciso também incluir, junto aos Suportes Tangíveis, o ar. Através do diálogo, a literatura oral nos chega através deste suporte, por ondas mecânicas, físicas, tangíveis (que difere do Suporte Intangível do idioma ou das palavras, por exemplo). Apenas optei por não incluir esses pensamentos nos exemplos acima para evitar alguma confusão por parte do leitor e pelo fato de que este ensaio pretende se deter mais sobre a literatura escrita.
(2) Não vou me deter sobre a tríade Índice, Ícone e Símbolo aqui, ou sobre Primeiridade, Secundidade e Terceiridade, mas a importância da transposição do uso de ícones para o uso de símbolos pode ser melhor apreciada sob a luz das teorias semióticas de Charles Sanders Peirce.
Com o desenvolvimento e surgimento de novos suportes, que marcaram a história do livro e da própria sociedade universal, é natural que a relação do leitor com os textos tenha também se desenvolvido e se alterado com o decorrer destas mudanças. O livro ou, antes dele, o texto, tem sua relação com o leitor através do suporte. E é graças a esse suporte que a nossa relação com os textos mais diversos passou da adoração ao tesão. Novas plataformas e suportes trazem novas idéias a esse namoro e novas posições para a nossa bibliogamia.
O primeiro encontro do homem com a literatura escrita, em um Suporte Tangível, deu-se provavelmente sobre a parede de alguma caverna. A partir de elementos pictórios e icônicos, começou-se a criar uma representação simbólica(2) para transmitir as narrativas e idéias. O contato com esse texto, escrito sobre a pedra, era frio, áspero, imóvel. A posição de leitura era não era cômoda, não era prático (apesar de breve) o ato de ler. Esse primeiro encontro do leitor com o texto escrito estava ainda muito longe da relação atual, muito mais próxima e afetiva. Ainda assim, um certo fascínio já começava a compor o triângulo amoroso entre autor, texto e leitor. Começa, de forma tímida, o flerte da literatura.
Na antiguidade, o texto verbal escrito ganha corpo e se desenvolve. Os códigos usados são mais versáteis, muito mais apoiados em símbolos do que em ícones, permitindo um maior envolvimento do texto com o leitor e mais recursos ao autor. O suporte também se desenvolveu. Os textos deixaram a imobilidade das paredes das moradas e a narrativa ganhou um pouco de mobilidade nas placas e tabuletas de argila ou pedra. O leitor pode finalmente abraçar o texto. Apesar do peso dos suportes deste período, da dificuldade de se esculpir o texto sobre a pedra e cortar as tabuletas em tamanhos adequados, apesar da fragilidade das placas de argila sob impacto, os textos ganharam um suporte que permitiu mais interação na sua relação com o leitor. Mesmo com certas dificuldades, o namoro dos raros leitores com o texto torna-se mais palpável. O toque já é menos áspero e o flerte torna-se menos difícil. No entanto, o próprio suporte ainda dificulta o acesso à leitura e são poucos os que têm esse privilégio. Para a maior parte do público, o texto é ainda algo distante, uma presença difusa, cercada de ritos e cuidados, apenas acessível para uns poucos escolhidos. A literatura começa a tomar um ar quase sacro. E o que começava como um namoro tímido, passa a encaminhar-se para a adoração.
Ainda na antiguidade, a partir do século II A.C, a literatura ganha muito em mobilidade. As tabuletas minerais dão lugar aos papiros, suporte vegetal, feito à base de uma planta que era moldado em longas lâminas, que ultrapassavam os cinco metros de comprimento e poderiam ser enrolados em formato de canudo, facilitando o transporte e armazenamento. A figura do escriba já está bem estabelecida e a literatura começa a ganhar importância cada vez maior, ainda que com foco nos aspectos historiográficos ou de exaltação de divindades ou governantes. O relacionamento do texto com o leitor continua a ser de uma divindade adorada, não um parceiro a ser conquistado, de um relacionamento afetivo. A emoção envolvida restringe-se ao medo, à surpresa, à adoração. Além disso, o fato do contato do público com o texto escrito só ocorrer através de escribas e sacerdotes em rituais religiosos, não ajuda a reverter esse quadro. No entanto, o suporte já se mostra mais amigável. Mais leve, menor, mais agradável ao toque. Ele aceita mais facilmente as palavras do autor, relaciona-se de forma mais prazerosa com este. Já permite uma leitura mais agradável, mais confortável. Tanto na precisão dos tipos escritos, quanto na própria postura de leitura.
O papiro é posteriormente substituído pelo pergaminho. O vegetal dá espaço para o couro animal. O pergaminho dá ao texto uma durabilidade superior, permitindo que a relação do leitor e do texto perdure por mais tempo. Ainda que o relacionamento esteja ainda muito mais próximo de uma relação deus-adorador do que de amantes, a possibilidade de um relacionamento de longa duração já se torna aceitável.
O pergaminho é, pelos gregos e romanos, aos poucos, substituído pelos códex. As lâminas são agora agrupadas em volumes, não mais enroladas. Nos primeiros anos da Era Cristã, o suporte da literatura começa a tomar as formas que conhecemos hoje. O leitor passa, a partir de então, a relacionar-se com o livro. Mas não é ainda que o relacionamento se torna mais íntimo. Os códex são ainda frágeis, pesados, grandes e incômodos. A leitura normalmente ainda chegava ao público através de um terceiro, de um leitor “oficial”. Mas o suporte permite, mesmo em leituras públicas, uma proximidade um pouco maior do público com a literatura, e o texto parece, aos poucos, mais próximo dos leitores.
Como o livro era de acesso, normalmente, restrito aos indivíduos de grandes posses — nobres, clero, oligarcas — passa a ser também um símbolo deste status (além do poder de controle da informação e da História). Surge, mais evidentemente, o desejo pelo livro. Ao menos nas elites, a adoração começa a dar lugar a um relacionamento mais pessoal, mais próximo. O flerte parece querer retornar entre leitor e literatura.
Se, por um lado, a Idade Média Ocidental exaltou o aspecto da adoração do livro como algo sagrado através da influência do poder eclesiástico, por outro, começa a surgir a literatura vernacular européia, com o latim cedendo espaço para os idiomas nacionais. Enquanto a Igreja declara o livro como objeto sagrado ou profano, surgem esforços que dariam ao povo o poder flertar com o livro como um igual. Leitor e texto recomeçam a falar a mesma língua. E com a proibição da Igreja sobre muitas obras, o flerte começa a adquirir o sabor de romance proibido. Nesse ínterim, o suporte também ganha uma nova plataforma. O pergaminho passa a ser substituído pelo papel que, combinado com os monges copistas, amplia a produção literária (no que diz respeito à quantidade de volumes) em níveis até então não alcançados. Os leitores, entre adoração e desejo, passam a ter mais pretendentes. E entre adoração e desejo, entre a deidade e o amante, o livro começa a tomar ares de fetiche.
No ocaso da Idade Média, do outro lado do globo, surge a máquina chinesa que suplantaria o volume de produção dos monges copistas europeus. A prensa de tipos móveis oriental, feita em madeira, possibilitou um volume de produção em muito superior aos dos monges ocidentais. Com a nova tecnologia e o suporte adequado, os livros começaram a se espalhar devagar pelo globo.
Surgida no século XV, a prensa de Gutenberg está para a prensa chinesa como o pergaminho está para o papiro. A prensa de Gutenberg, com tipos móveis de metal, ao contrário dos de madeira chineses, propiciava a reutilização e maior precisão de impressão. Aliado a uma nova distribuição de poder na Europa, a invenção propiciou uma enxurrada de livros no continente, aumentando a produção de volumes e de criação literária. O livro, já envolto em vestes de fetiche, vai tomando formatos e acabamentos mais agradáveis. Leves, resistentes e práticos; de fácil leitura, armazenamento e transporte, o livro chegou às mãos dos leitores. O namoro distante passou a ser mais próximo e passional. O leitor podia envolver o livro e deixar-se envolver por ele. O relacionamento passou a ser mais íntimo. As grandes leituras públicas foram trocadas pelas leituras solitárias. Leitor e literatura, finalmente, conseguiram ficar a sós. O leitor conseguiu, em fim, levar o livro pra cama. Literalmente. E a adoração passou a tesão. De divindade, o livro passou a amante.
Hoje, com a demanda crescente e a ampliação do mercado editorial, as edições comemorativas, as reedições de clássicos ou bestsellers, as edições de luxo e as grandes tiragens apimentam ainda mais a relação entre leitor e literatura. O aspecto de fetiche do livro ganha ainda mais destaque e estimula ainda mais o desejo do leitor pelos volumes.
Mais recentemente, já a partir do fim do século passado, começam a surgir os e-books e os livros passam às telas dos computadores. Já tive a oportunidade de ler alguns livros de diferentes gêneros nessa nova plataforma. Livros relativamente curtos, livros bem mais longos, narrativas ficcionais ou ensaios científicos/filosóficos/não-ficção. Independentemente do caso, notei uma leitura mais lenta e mais cansativa na tela do que no papel. A mobilidade dos desktops também não é muito superior à das tabuletas de argila, e os laptops e notebooks suprem apenas em parte essa desvantagem. O peso é igualmente mais incômodo que o dos livros. A posição de leitura é bem menos versátil e, por conseqüência, menos cômoda que a dos livros de papel. O armazenamento, no entanto, é inúmeras vezes superior, visto que é mais fácil encher um HD de e-books do que uma estante de livros (tanto física quanto financeiramente). Mas, em contrapartida, se ficou mais fácil a aquisição e a guarda das obras, o leitor já não pode mais tocá-las, envolvê-las, sentir o cheiro das páginas, a textura das fibras, já não pode mais envolver o amante como antes o fazia. Em tempos de bibliogamia virtual, o fetiche perde força. Não seria então, em oposição à maior disseminação e acesso às obras, o e-book um retrocesso no relacionamento do leitor com livro? Esse novo suporte, ao mesmo tempo em que aproxima, distancia o leitor da obra. Teria este fenômeno a peculiaridade de promover um maior número de relacionamentos leitor-livros, mas de forma mais superficial, como muitos relacionamentos virtuais? Visto que este é um texto originalmente virtual, o que diz isto a seu respeito? Qual a sua relação, leitor, com esta Palavra? Acaso seria ela mais sedutora sobre o papel?
Com o avançar tecnológico, não duvido, questões como estas serão revisitadas. Os novos suportes, como modelos de PDAs, palmtops, celulares e e-book readers, as pesquisas na área de e-papers, rumam para retomar o relacionamento, estreitando novamente os laços com o leitor, buscando novamente dividir os lençóis com ele. Não creio, de forma alguma, que esse namoro corra qualquer risco. Mas a impressão que tenho é que essa é uma daquelas pequenas crises no relacionamento. E esse texto, ao que parece, pretende discutir a relação. Eu, leitor promíscuo que sou, levo pra cama livros tradicionais enquanto flerto com outros pelo computador. No fundo, talvez, muito além destas reflexões e independentemente do suporte, o importante seja não deixar faltar tesão.
Notas:
(1) É preciso também incluir, junto aos Suportes Tangíveis, o ar. Através do diálogo, a literatura oral nos chega através deste suporte, por ondas mecânicas, físicas, tangíveis (que difere do Suporte Intangível do idioma ou das palavras, por exemplo). Apenas optei por não incluir esses pensamentos nos exemplos acima para evitar alguma confusão por parte do leitor e pelo fato de que este ensaio pretende se deter mais sobre a literatura escrita.
(2) Não vou me deter sobre a tríade Índice, Ícone e Símbolo aqui, ou sobre Primeiridade, Secundidade e Terceiridade, mas a importância da transposição do uso de ícones para o uso de símbolos pode ser melhor apreciada sob a luz das teorias semióticas de Charles Sanders Peirce.
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domingo, 5 de outubro de 2008
Quase
Queria, impreterivelmente, começar seu menor conto pela maior palavra. Quase conseguiu.
Esse foi pro Duelo. A idéia era desenvolver um conto usando menos de 100 caracteres. Curtinho, só pra não deixar o blog parado por muito tempo.
Esse foi pro Duelo. A idéia era desenvolver um conto usando menos de 100 caracteres. Curtinho, só pra não deixar o blog parado por muito tempo.
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Rodrigo Oliveira
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