domingo, 4 de janeiro de 2009

O verbo mudo

O conto é, em essência, narrativa. Narrativa pressupõe ação. A mais comum expressão da ação na literatura se dá através do verbo. O que aconteceria então se excluíssemos o verbo da narrativa? Com esse intuito prôpus, no Duelo de Escritores o tema "Texto sem verbo". A minha solução para o experimento, segue abaixo. E quem quiser conferir outras saídas pro problema proposto, pode ver o texto dos outros duelistas no Duelo. É só clicar no link ali ao lado.


O verbo mudo.

Ping!


— Bom dia.
— Bom dia. Nono, por favor.
— Pois não.

Entre as quatro paredes de metal, eu e o ascensorista. E Ray Connif na rádio interna. Sete anos, a mesma rotina. A mesma música. Os mesmos nove andares. Mas não hoje.

— Aliás, oitavo.
— Oitavo?
— Oitavo.
— Pois não, senhor.

Ping!

— Oitavo, senhor.
— Obrigado.

Do corredor à porta de incêndio. Nas escadas, um degrau por vez. Passo a passo. Cada vez mais alto até a porta com o número nove. Novo corredor. O velho corredor. O corredor de todos os dias. Dez passos até a porta de madeira. A mesma empresa. Os mesmos rostos. Os mesmos bom dias falsos. Hoje, sem resposta. Hoje sem sorriso.

A porta de vidro transparente. A sala do chefe. Porta a dentro.

Um único verbo, silencioso, num dedo médio em riste.

5 comentários:

Anônimo disse...

Não é a toa que levou a rodada. Foi muito bom.

JLM disse...

concordo, vc soube usar bem as palavras.

JLM disse...

olá

gostaria q vc revelasse quais livros te marcaram em 2008, talvez os Top5. o q me diz?

1 abraço

Rodrigo Oliveira disse...

Postei num comment no seu blog, mas tá aqui caso fique mais fácil:

Cara, agora q vc me fez parar pra pensar vi como essa pergunta é mais difícil de responder do que eu esperava. Mas vamos lá, aí vai uma listinha que pode ter algumas injustiças:

Todos os Nomes - José Saramago
Primeiro livro do Saramago q li. Muito bom mesmo. Foi a minha porta de entrada pros romances dele. Li depois o Ensaio sobre a cegueira graças a esse livro (q achei melhor q o ensaio) e estou lendo o Evangelho Segundo Jesus Cristo que
tb entraria pra lista se eu já ivesse terminado. Aliás, entraria não. Já entrou. Tá aqui.

Salada Russa - Tolstói, Gorki, Púchkin, Tchêkhov
Um livrinho despretensioso (quase infanto-juvenil) q achei por acaso num sebo, com contos de grandes contistas russos como os nomes ali em cima. A tradução é de Tatiana Belinky e edição da Edições Paulinas. Como tinha lido muito pouco dos russos, foi um prato cheio.

O Amor nos tempos do Cólera - Gabriel Garcia Marquez
Primeiro livro dele que li tb. As primeiras oitenta, cem páginas, deixaram uma expectativa não tão boa qto eu esperava, parecia q não desenvolvia. de repente aprendi a ler o romance, o livro deslanchou e se tornou um grande destaque de
2008.

A Arte de Escrever - Schopenhauer
Não sou mto fã de teoria literária. Mas Schopenhauer consegue escrever de forma a deixar tudo mais divertido. Ganhei de presente (da Incubadora Literária) e entra pra lista dos marcantes.

Dois Palitos - Samir Mesquita
Esse foi vc q indicou e comprei o livro da caixa de fósforo. Foi bacana ver o microconto achar seu papel principal. Muito bacana, além do fato de ver o livro-fetiche levado a extremo, uma iniciativa bem marcante.

Pra completar, tem três que me marcaram da literaura aqui de Blumenau. Sei q estoura os cinco, mas vai como bônus, sei lá.

Extraviário - Dennis Radünz
Esse foi o último daqui q li. Me intrigou bastante a poesia desse cara. Poemas bem diferentes, não consegui ainda definir bem. Por causa desse livro comprei o
Livro de Mercúrio, do mesmo autor, pra ver se descubro mais alguma coisa.

Nem sei bem se gosto muito, mas tem algumas coisas bem interessantes. Como disse, me intrigou e isso já vale algo.

Falações - Marcelo Labes
Um cara novo q escreve como gente grande. Poemas ácidos e bem
interessantes, com bastante intertexto. Foi um dos responsaveis por me voltar um pouco para a literatura regional.

De espantalhos e pedras também se faz um poema - Viegas F. da Costa
Outro responsável por me alertar q existe boa literatura por aqui. Já tinha lido o livro de crônicas do mesmo autor, mas é nesse de poemas q acho q ele conseguiu um resultado melhor e mais consistente. É denso, poético e ainda tem um certo charme de ser impresso em linotipo.

Não sei é bem isso q vc esperava, mas salvo alguns esquecimentos, acho q é por aí.

Abraço!

Marcelo Labes disse...

E o verbo se fez carne. Sem verbo, o que sobra? Grande abraço, meu caro. Nos cruzaremos por aí esse mês? Pra uma cerveja, quem sabe.