sábado, 29 de novembro de 2008
Negra - Ilustração Nova
Uma ilustra nova já que não tenho texto pra postar.
Ao lado o, traço à BIC. Clicando nas imagens amplia um pouco.
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Rodrigo Oliveira
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Pra não dizer que não falei das flores (soterradas)
Eu não ia escrever nada aqui sobre as enchentes em SC. Mas com essa confusão toda, não deu pra escrever nada direito. Como tinha que postar algo pro Duelo de Escritores e eu estava sem tempo, acabei fazendo isso aí em baixo de supetão. E acabou sendo de enchente. Pra não deixar isso aqui parado, estão aí os meus parcos versos de lama sobre Cinismo (mais ou menos).
Escrito na lama
Cinismo é crer que alguém ainda escreva sob as águas.
No entanto, se as águas levam tudo, não podem levar as palavras.
Continuemos, pois, com todo o cinismo do mundo.
Escrito na lama
Cinismo é crer que alguém ainda escreva sob as águas.
No entanto, se as águas levam tudo, não podem levar as palavras.
Continuemos, pois, com todo o cinismo do mundo.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Selenita
Selena vivia no mundo da lua. Selena Selenita, lhe chamavam. Selena orbitava a vida, de saia rodada rodando o mundo. Sem nunca tocá-lo. Caminhava tão leve com as sapatilhas brancas de trama xadrez, que parecia flutuar, evitando macular o solado nesta nossa aspereza. Selena, diziam, não era daqui. Não podia ser. Translava pelo mundo em rotação. Girando, girando, bailando, bailando. Sem deixar pegadas. Selena, selenita, se ria de tudo. Se ria do mundo, se ria de todos. Mesmo se riam de si. E como riam. É doida, diziam os loucos. Desocupada, acusavam os ociosos. Tola, criticavam os parvos. Pobrezinha, se apiedavam os miseráveis. E todos no mundo riam de Selena. Mas ela, selenita, continuava sua órbita de vestido rodado e sapatilhas sem meia, impulsionada pelas molas acastanhadas dos cabelos fragrantes. Na face, o riso fresco doutro mundo. O rubor das bochechas, olhos abertos para ver o mundo a girar. Dentro deles, a íris amarelada de quem porta o sol nas órbitas.
Mas Selena sabia que não podia rodar pra sempre. E sob a lua já minguante na noite fluorescente, cruzou a avenida quase sem perturbar as faixas brancas do asfalto. O semáforo ruborizou. Inveja velada. Os faróis pararam para ver Selena passar. Com as sapatilhas brancas, nas pontas dos pés, e com as molas dos cabelos saltando, Selena Selenita saltita à beira rio. E todos viam Selena girar. Selena Selenita, que orbitava o mundo sem o tocar. Rodopiou pela grama sem espantar o orvalho, vestido enfunado pelo vento que corria no rio. E o povo que caminhava, em malhas justas, fones e marcas, apontava Selena. E riam-se dela que ria-se deles. Ria-se ela do mundo que girava porque ela girava. Porque ela por ele tangenciava. E com ela, ria-se a lua, minguante no leito do rio. E o povo parou quando Selena pisou a água, com aqueles pés que mal pisavam a terra. Na margem, deixou a sapatilha molhada, embalada pela marola, flutuando sem tocar o chão. Selena ninguém mais apontou. Só viam seu riso marcado no meio do rio. Selenita encontrou-se com a lua. Selena Selenita, de tanto girar sozinha, escapou pela tangente. E os miseráveis ficaram sem ter de quem se apiedar. Os tolos já não tinham a quem apontar. Os ociosos ficaram sem ter o que fazer.
Selenita se fora. Os loucos diziam, tinha voltado para casa.
Mas Selena sabia que não podia rodar pra sempre. E sob a lua já minguante na noite fluorescente, cruzou a avenida quase sem perturbar as faixas brancas do asfalto. O semáforo ruborizou. Inveja velada. Os faróis pararam para ver Selena passar. Com as sapatilhas brancas, nas pontas dos pés, e com as molas dos cabelos saltando, Selena Selenita saltita à beira rio. E todos viam Selena girar. Selena Selenita, que orbitava o mundo sem o tocar. Rodopiou pela grama sem espantar o orvalho, vestido enfunado pelo vento que corria no rio. E o povo que caminhava, em malhas justas, fones e marcas, apontava Selena. E riam-se dela que ria-se deles. Ria-se ela do mundo que girava porque ela girava. Porque ela por ele tangenciava. E com ela, ria-se a lua, minguante no leito do rio. E o povo parou quando Selena pisou a água, com aqueles pés que mal pisavam a terra. Na margem, deixou a sapatilha molhada, embalada pela marola, flutuando sem tocar o chão. Selena ninguém mais apontou. Só viam seu riso marcado no meio do rio. Selenita encontrou-se com a lua. Selena Selenita, de tanto girar sozinha, escapou pela tangente. E os miseráveis ficaram sem ter de quem se apiedar. Os tolos já não tinham a quem apontar. Os ociosos ficaram sem ter o que fazer.
Selenita se fora. Os loucos diziam, tinha voltado para casa.
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Rodrigo Oliveira
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Alfa
O Duelo de Escritores acabou de completar um ano. Em comemoração houve uma rodada especial, em que os leitores é que foram os duelistas. O vencedor dessa rodada foi o leitor Jefferson. Como prêmio pela conquista, ele teve o direito de escolher o tema desta rodada. O infeliz escolheu: Revele as técnicas de escrita você usa, mas de uma forma original. Ofensas à parte pelo tema que me deu uma dor de cabeça, aí embaixo vai o resultado. Como o tema pede discussões e diálogos, é bom antecipar que, ao menos para mim, existem algumas (ou várias) técnicas que podem ser usadas. O texto abaixo se refere apenas a uma delas, que vem me... perseguindo... nos últimos textos. Vou parar por aqui antes que fale demais. Taí o texto. E se quiser participar da discussão e da votação, pode tb dar um pulo lá no Duelo de Escritores. O ano II está só começando.
Alfa
Corria com passos largos, quase aos saltos, colina acima. Não ousava olhar por sobre o ombro. Só ouvia o farfalhar veloz na grama às suas costas. O galpão velho e poeirento da ultrapassada oficina tinha a porta aberta. Refúgio débil, não obstante, um refúgio. Cruzou o vão de entrada e arrastou com esforço a porta de madeira pesada. O facho de luz exterior foi minguando junto com a imagem das perseguidoras. Passou o ferrolho, respirou fundo e colocou o ombro de encontro à porta, projetando todo seu peso. Não tardou para sentir o impacto do outro lado. O choque fez a porta tremer, mas ela se manteve firme e imperturbável. Ele, no entanto, não podia dizer o mesmo. Já o tinham atingido de alguma forma, mas não o tinham alcançado. E por hora isso parecia o suficiente.
Podia ouvi-las através das paredes de madeira. Uma luz frágil entrava filtrada pelo teto de vidro sujo. Dentro, em meio a placas de madeira e restos de serragem, serras, martelos e pregos enferrujados sugeriam armas pouco eficazes. Podia praticamente sentir as criaturas contornando a construção, cercando o barracão. Não eram muitas, mas eram implacáveis. Ouvia o roçar incessante contra as paredes, um choque aqui, um golpe mais adiante. E tudo que o mantinha protegido não era mais que uma tênue fronteira de madeira fina.
Um estalido de madeira partida o pôs em movimento. Driblou o ferramental velho a procura de um local melhor protegido. Pôde ouvir a parede se partindo e as invasoras se arrastando para o interior do velho galpão. Ouvia o som correndo pelos corredores de equipamentos ociosos, já podia sentir o cheiro das criaturas se aproximando. Em um canto, dava as costas à parede para evitar um ataque inesperado. Pôde ver surgir os olhos brilhantes, pregados nele e, mesmo sob a luz filtrada pelo telhado, pôde ver as criaturas se aproximando. Tentou esquivar-se da primeira investida, a segunda arranhou-lhe o corpo. Não pôde evitar a terceira. Quando a criatura se afastou ainda podia sentir as marcas deixadas pelas presas. As criaturas se afastaram um pouco, rondando, enquanto ele se prostrava ao chão. Sentia o conteúdo inoculado percorrer-lhe o corpo até o coração. Sentiu quando lhe subiu pelo peito à cabeça. Sentiu-se transformando.
Quando ergueu a cabeça tinha os mesmo olhos brilhantes das criaturas. Tornou-se um pouco como elas. E elas como ele. Quando o bando partiu, ele estava entre elas. Deixou-se levar, selvagem. Correu como um igual. Farfalhando grama, deixando para trás o galpão envelhecido. Quando se ergueu entre elas, era outro. Quando deu por si, elas não mais o perseguiam. Agora, elas o seguiam.
Alfa
Corria com passos largos, quase aos saltos, colina acima. Não ousava olhar por sobre o ombro. Só ouvia o farfalhar veloz na grama às suas costas. O galpão velho e poeirento da ultrapassada oficina tinha a porta aberta. Refúgio débil, não obstante, um refúgio. Cruzou o vão de entrada e arrastou com esforço a porta de madeira pesada. O facho de luz exterior foi minguando junto com a imagem das perseguidoras. Passou o ferrolho, respirou fundo e colocou o ombro de encontro à porta, projetando todo seu peso. Não tardou para sentir o impacto do outro lado. O choque fez a porta tremer, mas ela se manteve firme e imperturbável. Ele, no entanto, não podia dizer o mesmo. Já o tinham atingido de alguma forma, mas não o tinham alcançado. E por hora isso parecia o suficiente.
Podia ouvi-las através das paredes de madeira. Uma luz frágil entrava filtrada pelo teto de vidro sujo. Dentro, em meio a placas de madeira e restos de serragem, serras, martelos e pregos enferrujados sugeriam armas pouco eficazes. Podia praticamente sentir as criaturas contornando a construção, cercando o barracão. Não eram muitas, mas eram implacáveis. Ouvia o roçar incessante contra as paredes, um choque aqui, um golpe mais adiante. E tudo que o mantinha protegido não era mais que uma tênue fronteira de madeira fina.
Um estalido de madeira partida o pôs em movimento. Driblou o ferramental velho a procura de um local melhor protegido. Pôde ouvir a parede se partindo e as invasoras se arrastando para o interior do velho galpão. Ouvia o som correndo pelos corredores de equipamentos ociosos, já podia sentir o cheiro das criaturas se aproximando. Em um canto, dava as costas à parede para evitar um ataque inesperado. Pôde ver surgir os olhos brilhantes, pregados nele e, mesmo sob a luz filtrada pelo telhado, pôde ver as criaturas se aproximando. Tentou esquivar-se da primeira investida, a segunda arranhou-lhe o corpo. Não pôde evitar a terceira. Quando a criatura se afastou ainda podia sentir as marcas deixadas pelas presas. As criaturas se afastaram um pouco, rondando, enquanto ele se prostrava ao chão. Sentia o conteúdo inoculado percorrer-lhe o corpo até o coração. Sentiu quando lhe subiu pelo peito à cabeça. Sentiu-se transformando.
Quando ergueu a cabeça tinha os mesmo olhos brilhantes das criaturas. Tornou-se um pouco como elas. E elas como ele. Quando o bando partiu, ele estava entre elas. Deixou-se levar, selvagem. Correu como um igual. Farfalhando grama, deixando para trás o galpão envelhecido. Quando se ergueu entre elas, era outro. Quando deu por si, elas não mais o perseguiam. Agora, elas o seguiam.
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Rodrigo Oliveira
domingo, 9 de novembro de 2008
Playmobil
Eu já fui um Playmobil. E aparentemente um concorrente do Inri Cristo.
Ilustra das antigas, de quando fiz um a camiseta com todos os funcionários da Callier em versão Playmobil.
Ilustra das antigas, de quando fiz um a camiseta com todos os funcionários da Callier em versão Playmobil.
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Rodrigo Oliveira
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Micro-conto
Na pia batismal o missionário se banhava. Nu, renasceu puro e molhado frente às beatas descrentes.
Esse micro-conto está inserido no meu último conto no Duelo de Escritores (sob o tema A Missão). Não achei aquele conto muito bom, mas acho q esse micro-conto é interessante. Foi ele inclusive que me levou a escrever o outro. Acho que daqui pode pintar mais alguma coisa um dia.
Esse micro-conto está inserido no meu último conto no Duelo de Escritores (sob o tema A Missão). Não achei aquele conto muito bom, mas acho q esse micro-conto é interessante. Foi ele inclusive que me levou a escrever o outro. Acho que daqui pode pintar mais alguma coisa um dia.
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