Da meia-água de telhas de barro, observo a atafona distante. Vã e velha. Abandonada. Apenas um moinho em um mundo que já não enxerga gigantes. Obsoleto num mundo elétrico que dá luz e choque sem dar calor.
O tempo dos moinhos se foi, mas ainda me pesa às costas arqueadas. Como as sacas de farinha me pesavam quando garoto, ao entrar e sair por entre as pás ouvindo o gemer da mó. E como as sacas de farinha, os anos se empilham em minhas espáduas e deixam escorrer o branco sobre meus cabelos. Parcos velos que para ceder espaço ao tempo, precipitam-se como de uma ampulheta. E restam-me tão poucos grãos ainda por cair! Grãos alvos de farinha. Alvos do tempo, que os empurra implacável como o vento empurra as pás. Enquanto, dentro do moinho, à pedra resta apenas o vazio por moer e remoer.
Observo a moenda que se rende à idade. E me curvo dócil ao tempo que me arca o corpo. Enquanto o corpo, à última arca, arca. Até que os anos, empilhados todos uns sobre os outros, se desequilibrem e se precipitem junto com os últimos grãos de farinha. Resta-me apenas o tempo que range em migalhas sob a mó.
sábado, 19 de julho de 2008
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Um comentário:
Mais um do Duelo de Escritores. Esse era para falar sobre "Idade". Se quiser ler os textos dos outros participantes clica no link ali do lado ou vai no www.duelodeescritores.com.
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