Silêncio no 32135
Photo by Steve Marcus | Las Vegas Sun | Reuters. Fair Use. |
O som de botas ritmadas ecoava compassado. Ramblambam-ramblambam. As luzes coloridas das ribaltas rasgava o céu acompanhando os acordes. Se fossem vistos dos altos prédios ao redor, ouviria-se apenas as notas saídas das caixas de som, mas não as vozes que se faziam coro, riam e se entregavam, chapéus à mão, transformados em mutidão. Ramblambam-ramblambam, soavam as botas no palco. Ramblambam-ramblambam, respondiam as botas da plateia contra o chão. Vinte e dois mil pares de botas. Vinte e duas mil vozes.
Ramblambam-ramblambam.
A trinta e dois andares acima ninguém notou as janelas quebradas.
Ramblambam-ramblambam.
Um par de botas, deitado no chão.
Ramblambambadabambadabambadabam.
O som das botas desencontradas ecoava descompassado. Os clarões dos projéteis rasgavam o céu acompanhando o caos. Vistos dos altos prédios ao redor, não se podia ouvir as vozes de choro, os gritos, não se podia ver os chapéus ao chão, o vermelho ao chão, uma ideia ao chão. Tudo é transformado em turbilhão.
Ramblambam.
Clack-cla;
bam.
Quando as botas dos homens de uniforme entram no 32135 já não havia som. Nem nos palcos, nem na platéia, nem nas janelas, nem nas tribunas e palanques.
No silêncio alguém perguntou "o que se há de fazer?" E a resposta soou automática, novamente, como havia soado tantas e tantas vezes, em todos os silêncios após rajadas, também automáticas.
E os ouvidos moucos esperaram que mais uma vez ela se perdesse no silêncio, junto com quase sessenta pares de botas ficariam sobre as ruas.
O que acontece lá, afinal, lá permanece.
Um comentário:
Ramblamblam ramblamblam é o novo bumbaba bumbaba?
hahaha
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