quinta-feira, 17 de junho de 2010

O sonho do sem-cão

Um latido noiterrompeu-me os sonhos:
— Cãocãocão! Cãocãocão!

Desadormeci pispispiscando os olhos sob o luar. Atentei ao chamado.
— Cãocãocão! Cãocãocão!

Mirei o jardínscuro vazio, com olhos sonolentos. Nada havia. Apenas um sem-cão silente e a expiração do mundo nos sombrabaixos. Um mundormente e nada mais.

Sonambulava pupilargas pelo vidro, perscrutando a escuridão que mundormia janelafora. Ouvia o ronronar chiado do nada.
— Cãocãocão! — de repente, pelo vidro.

Madeixergui-me em sobressalto ao repentino alarma. Não via nada pelo vão vitrembaçado. Apenas o jardínscuro e o respirar próximo de um sem-cão e branquear a vidraça. Quase podia ouvi-lo rosnar, mas não havia nada para apaziguar minhas pupilargas curiosas.

Seguiram-se minutos latimudos de janelas opacadas.

Até que indespertei-me novamente na cadeira junto à janela sob a lualva já mais baixa e despedi-me da noite com um cerracenho cansado e um ganido baixinho.

Um comentário:

Costa de Souza disse...

Muito bons neologismos. Trouxeram mais interpretação, mais expressão, mais surpresa.

Parabéns!