quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Aposiopese

Para você que, como eu, também começa nesse mundo de letras e pontos e idéias, eu tenho um conselho. Não que o meu conselho seja mais digno de nota que o seu, ou de qualquer outro. Eu não tenho conhecimento nem experiências suficientes escrevendo para dar um conselho a ninguém. Mas ainda assim, eu tenho um conselho. Nada relacionado a como começar a escrever, que isso eu também não sei. Ao contrário, meu conselho se atém ao fim da frase. Evite, você que deseja escrever ou já escreve, o uso das reticências. Aqueles famigerados três pontinhos ao final da frase. Aquela versão frustrada e frustrante de um ponto final que, mesmo tentando três vezes, não consegue sê-lo. Evite as reticências. Elas, que não fazem mais do impedir a frase de prosseguir, mas que tampouco permitem que ela termine. Deixam aquele parágrafo no vácuo, pairando oco e sem motivo, sem norte, procurando pelo resto da sentença que nunca chegará, ou por um ponto final que tarda. É como se a frase agonizasse reticente, morrendo lentamente, assistindo as letras minguarem, os fonemas silenciarem, num último suspiro tão longo que não permite retomar fôlego para recomeçar a leitura. Não deixe que uma frase morra reticente. Evite as reticências. Toda frase, terá, necessariamente um fim. Mesmo as mais longas chegam, uma hora, ao fim. Quando chegar essa hora, sepultea-a sob a dignidade e a elegância de um honrado e justo ponto final. Ao contrário das reticências, que golpeiam o papel com repetidas aguilhoadas, deixando-o marcado e retornando à carga para mais uma estocada, o ponto final é direto e indolor. Em vez de um repicar selvagem que deixa a frase em agonia perpétua, um golpe rápido, preciso, definitivo. Justo, honrado e digno de uma frase que nos passou sua mensagem, deu o seu recado e agora pode descansar, até que um outro leitor torne a abrir o livro. Por isso, você que também envereda pelas letras, ouça esse meu único conselho. Da próxima vez, não use as reticências.

3 comentários:

Fábio Ricardo disse...

tá bom...

Fábio Ricardo disse...

meu, até o blogger usa reticências! Olha ali em cima: "Fábio Ricardo disse..."

Rodrigo Oliveira disse...

Sobre esse texto ler a resposta ao comentário do Félix em Os Herdeiros do Coveiro sem Cova, mais acima.