Retomando o post anterior, o Fábio, nos comentários, chegou no que eu queria com o texto. A ideia inicial era, realmente, tornar a mancha no pescoço dele imaginária. Fruto de uma culpa, como a mancha de sangue de uma Lady Macbeth de calças. Com essa referência em mente, algumas decisões foram rapidamente tomadas. A primeira, que todo mundo percebeu, foi ao estilo. Tentei forçar o texto a fugir do meu estilo - a minha mais puxando pro clássico - e tentei uma pegada mais contemporânea, tentando deixar mais o mind flow dirigir a narrativa em primeira pessoa (outra coisa q normalmente nao faço tanto). Distanciando o estilo do clássico, eu pretendia jogar o texto pro outro oposto, mantendo distante do cânone (e por consequencia de qq referencia direta a shakespeare). a ideia era fazer o texto menos classico ou rebuscado estilisticamento possível, num contraponto à referência de Macbeth. Daí tb a quase falta de diálogos e a inexistência de travessões. Claro, pra um texto escrito em poucas horas de madrugada e com uns chopes na cabeça, eu não podia esperar mto, mas obviamente, foi ainda pior. Talvez, pensado em rever o texto, se ele for, em algo, ainda válido para isso, eu deveria ter apresentado a culpa dele bem antes do personagem, logo no início do texto. talvez trazer alguma cena da festa, que talvez sugerisse mas nao deixasse claro se ele teria ou não um chupão. talvez uma conversa ou piada sobre isso justificaria, associado à culpa, que a mente dele criasse essa ilusão, que acabou ficando gratuita. Algo que poderia trazer volta e meia esse reflexo de culpa seria a lembrança ou a interferência, de alguma forma de Beth, avivando isso no texto.
A referência com a obra de Shakespeare deveria provavelmente aparecer de forma velada em alguns pontos, para sustentar uma comparação leve. Os nomes seguidos "marco/beth" foram mais um easter egg q um recurso literário (texto fraco nisso, diga-se). Provalvemento com mais alguns recursos ligando um texto ao outro, isso até poderia funcionar. E claro, a referência não era em si a obra Macbeth, mas à cena I do ato V mais especificamente, onde Lady Macbeth, sonâmbula, esfregava as mãos à lavá-las de um sangue inexistente que não desaparecia. Ali estava a mancha de Lady Macbeth. A minha, deveria estar num guardanapo do Butiquin. E era de chope.
Não devo retomar mto isso aqui, visto que não acho q seja algo que realmente valha. É mais para retornar a postar algo aqui e quem sabe, com o ritmo, retornem tb os textos que valham os bytes que os abrigam. Mas já estamos nós aqui e pra não perder a visita, nao custa peguntar: e vc, onde acha q o texto se perdeu? Q recursos o teriam salvo? Bom, me vou e deixo de manchar esses pixels por hora.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
terça-feira, 23 de junho de 2009
Do fracasso de "Imaculado" - Parte I
O texto do último post foi postado tb no Duelo de Escritores. Tanto aqui quanto lá, parece que o texto não cumpriu o seu papel. Provavelmente o autor, na verdade. Alguns desses erros até já sei quais são. O mais importante, é que o texto foi criado, na sua maior parte, na hora da postagem, na madrugada do data limite. Provavelmente eu poderia consertá-lo com mais tempo. Ainda assim, achei interessante trazer isso à tona e pretendo, nos próximos posts avaliar as tomadas de decisões no decorrer do texto que culminaram no seu fracasso. Se no final, achar que vale a pena retomar o texto e reescrevê-lo, o farei. Do contra´rio vale apenas como exercício de reflexão.
Qto a Imaculado, parece que não me fiz entender. E a culpa aqui é sim do texto mesmo, não dos leitores. Muita gente acho pouco verossível Beth não perceber a mancha do chupão no pescoço de Marco. O Félix, pode se encrencar achando que banho quente tira chupão. Não quero encrencar um amigo. Félix, banho quente não tira chupão. Abre o olho. E eu concordo que seria impossível alguém não ver um chupão no banho com outra pessoa. No próximo post pretendo avaliar algumas das escolhas possíveis que eu pudesse ter tomado pra melhorar o texto. As pistas que pus no texto, obviamente nao foram suficientes pra elucidá-lo. No texto, só mesmo o nome dos personagens, seguidos, na primeira linha do conto. Nos comentários da postagens no duelo, aqui, deixei outra pista. Não esclareci mais na hora, pra nao influenciar a votação.
No próximo post (ou seguinte a ele) a continuação desta malfadada história.
Qto a Imaculado, parece que não me fiz entender. E a culpa aqui é sim do texto mesmo, não dos leitores. Muita gente acho pouco verossível Beth não perceber a mancha do chupão no pescoço de Marco. O Félix, pode se encrencar achando que banho quente tira chupão. Não quero encrencar um amigo. Félix, banho quente não tira chupão. Abre o olho. E eu concordo que seria impossível alguém não ver um chupão no banho com outra pessoa. No próximo post pretendo avaliar algumas das escolhas possíveis que eu pudesse ter tomado pra melhorar o texto. As pistas que pus no texto, obviamente nao foram suficientes pra elucidá-lo. No texto, só mesmo o nome dos personagens, seguidos, na primeira linha do conto. Nos comentários da postagens no duelo, aqui, deixei outra pista. Não esclareci mais na hora, pra nao influenciar a votação.
No próximo post (ou seguinte a ele) a continuação desta malfadada história.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Imaculado
O celular tocou de manhã. Atendi: “Marco”. “Beth”, ela respondeu, tentando imitar o meu tom sério. Grunhi um “oi, amor”; ela riu um “te acordei?”. Confirmei o horário de chegada do vôo; ela me pegaria no aeroporto. Confirmei que tinha fechado a venda e avisei que depois tinha dado um porre nos chineses para comemorar. Ela me perguntou num ciúme fingido se eu tinha certeza que não tinha nenhuma chinesa. Não tinha. Só chineses velhos bêbados. As meninas eram todas brasileiras. Inclusive a baianinha pendurada no meu pescoço. “Sabe o que fica melhor no pescoço de um executivo do que uma gravata italiana? Uma baiana!” Foi o que eu disse aos chineses. E ele fizeram questão de me empurrar uma das meninas. Claro que não disse nada disso à Beth. Até porque não tinha acontecido nada demais. Era tudo parte do negócio com os chinas, afinal.
Desliguei o telefone, conferi os papéis assinados na mesa perto da cama, abri as cortinas e fui tomar um banho. Foi só quando limpei o espelho embaçado que vi a confusão em que tinha me metido. A filha da puta tinha me deixado com um chupão no pescoço. A Beth iria me matar. Ainda tentei passar água fria para ver se diminuía o roxo, mas não adiantou muito. Lembrei que um amigo tinha me dito, há muito tempo, que passar um pente com álcool resolveria o problema. Vendo a hora do meu vôo chegar e sem uma garrafa de álcool por perto, apelei pro minibar. No nicho de madeira na parede acima do frigobar as várias garrafinhas coloridas estavam perfiladas. Miniaturas perfeitas das garrafas originais. Comecei a selecionar. Campari me deixaria ainda mais vermelho, estava fora de cogitação. Isso me deixou mais inclinado entre a garrafinha de Jack Daniel’s e a de Absolut. Se a idéia era tirar a mancha, que fosse com a incolor. Baiana filha da puta. Eu nunca tinha comprado uma garrafa de Absolut na vida e agora estava esvaziando uma em cima de um pente de plástico com logotipo de hotel. Passei um pouco da bebida ainda sobre a mancha para ajudar e esfreguei o pente até o meu pescoço ficar todo vermelho. Esperei um pouco e repeti a operação. Nada. O chupão continuava lá. E o horário do meu vôo chegando. Teria que resolver o problema no caminho.
Guardei os papéis, peguei minhas malas e desci pro saguão onde já tinha mandado chamar um táxi. As pessoas olhavam o meu pescoço como se vissem uma ilustração do Kama Sutra. E o cheiro de bebida no meu colarinho também não ajudava muito. O funcionário do hotel abriu a porta do táxi e, com um sorriso sacana na cara, disse: “Seu taxi, senhor. Espero que tenha gostado da sua estada”. Filho de uma égua manca. Fez piadinha, se fodeu. Ficou sem gorjeta. O táxi me deixou no aeroporto, sem piadas dessa vez. Devia precisar da gorjeta.
No espelho do banheiro do aeroporto, conferi o roxo da baiana no meu pescoço. O cara que saiu do mictório disfarçou o olhar enquanto lavava as mãos. Mas antes de sair fez questão de ajeitar o colarinho da camisa, só de sacanagem. Mas não é que o puto, acabou me dando uma idéia? Passei numa das lojas do aeroporto e comprei uma camisa de gola alta. Troquei de roupa na loja mesmo e já saí com a gola escondendo mais da metade do meu pescoço e a mancha da baiana.
O vôo foi tranqüilo e, quando desci no aeroporto, Beth estava à minha espera. “Nossa, tudo isso é frio?”, ela estranhou. “Pois é, aquela garoa infernal de São Paulo”. Ela pareceu engolir a história. Fomos para o apartamento dela.
Deixei as malas num canto, ajeitei as coisas, ela perguntou se eu não queria tomar um banho. Disse que deixaria pra mais tarde. Ela não pareceu se importar e se pendurou em meu pescoço, me dando um beijo ao pé da orelha. Disse que tinha um presente de boas vindas, enquanto corria as mãos por baixo da minha camisa. Eu dei uma desculpa esfarrapada, dizendo que não me sentia bem, talvez tivesse febre, ou só um começo de gripe. Talvez fosse melhor mesmo tomar um banho, ela insistiu, e depois me enfiar em baixo das cobertas, sugeria. Ela concordou. “Vai lá que eu vou pegar uma outra roupa pra você”, ela quis ser amável. Insiste que não se preocupasse, que seria melhor eu por a mesma camisa, pra me manter aquecido. Ela disse “Você que sabe” e foi preparar um chá no fogão.
Entrei no chuveiro e liguei a água, deixando que caísse ruidosa sobre a minha cabeça, tentando esquecer do mundo e pensar numa solução. Só ouvia o som da água caindo na cabeça e escorrendo pelos ouvidos, pelo rosto. Só dei por mim quando ouvi o som da porta do box se abrindo e Beth entrando no chuveiro comigo. Nu. Desprotegido. À mostra. Ela se aproximou de mim, beijou o meu rosto, o meu pescoço, como se nada lá tivesse, e desceu devagar. “Sei de uma coisa que vai te fazer melhorar rapidinho”, ela disse.
Quando saí do banho, mal podia me olhar no espelho. Vergonha de mim mesmo. E ela tinha me aceitado de volta. Passei a mão pelo espelho embaçado para ver os meus olhos me recriminando e o meu pescoço sem marcas. Beth passou por trás de mim, enrolada em uma toalha. Me beijou a nuca e disse, “vem logo tomar o chá pra não esfriar”.
Desliguei o telefone, conferi os papéis assinados na mesa perto da cama, abri as cortinas e fui tomar um banho. Foi só quando limpei o espelho embaçado que vi a confusão em que tinha me metido. A filha da puta tinha me deixado com um chupão no pescoço. A Beth iria me matar. Ainda tentei passar água fria para ver se diminuía o roxo, mas não adiantou muito. Lembrei que um amigo tinha me dito, há muito tempo, que passar um pente com álcool resolveria o problema. Vendo a hora do meu vôo chegar e sem uma garrafa de álcool por perto, apelei pro minibar. No nicho de madeira na parede acima do frigobar as várias garrafinhas coloridas estavam perfiladas. Miniaturas perfeitas das garrafas originais. Comecei a selecionar. Campari me deixaria ainda mais vermelho, estava fora de cogitação. Isso me deixou mais inclinado entre a garrafinha de Jack Daniel’s e a de Absolut. Se a idéia era tirar a mancha, que fosse com a incolor. Baiana filha da puta. Eu nunca tinha comprado uma garrafa de Absolut na vida e agora estava esvaziando uma em cima de um pente de plástico com logotipo de hotel. Passei um pouco da bebida ainda sobre a mancha para ajudar e esfreguei o pente até o meu pescoço ficar todo vermelho. Esperei um pouco e repeti a operação. Nada. O chupão continuava lá. E o horário do meu vôo chegando. Teria que resolver o problema no caminho.
Guardei os papéis, peguei minhas malas e desci pro saguão onde já tinha mandado chamar um táxi. As pessoas olhavam o meu pescoço como se vissem uma ilustração do Kama Sutra. E o cheiro de bebida no meu colarinho também não ajudava muito. O funcionário do hotel abriu a porta do táxi e, com um sorriso sacana na cara, disse: “Seu taxi, senhor. Espero que tenha gostado da sua estada”. Filho de uma égua manca. Fez piadinha, se fodeu. Ficou sem gorjeta. O táxi me deixou no aeroporto, sem piadas dessa vez. Devia precisar da gorjeta.
No espelho do banheiro do aeroporto, conferi o roxo da baiana no meu pescoço. O cara que saiu do mictório disfarçou o olhar enquanto lavava as mãos. Mas antes de sair fez questão de ajeitar o colarinho da camisa, só de sacanagem. Mas não é que o puto, acabou me dando uma idéia? Passei numa das lojas do aeroporto e comprei uma camisa de gola alta. Troquei de roupa na loja mesmo e já saí com a gola escondendo mais da metade do meu pescoço e a mancha da baiana.
O vôo foi tranqüilo e, quando desci no aeroporto, Beth estava à minha espera. “Nossa, tudo isso é frio?”, ela estranhou. “Pois é, aquela garoa infernal de São Paulo”. Ela pareceu engolir a história. Fomos para o apartamento dela.
Deixei as malas num canto, ajeitei as coisas, ela perguntou se eu não queria tomar um banho. Disse que deixaria pra mais tarde. Ela não pareceu se importar e se pendurou em meu pescoço, me dando um beijo ao pé da orelha. Disse que tinha um presente de boas vindas, enquanto corria as mãos por baixo da minha camisa. Eu dei uma desculpa esfarrapada, dizendo que não me sentia bem, talvez tivesse febre, ou só um começo de gripe. Talvez fosse melhor mesmo tomar um banho, ela insistiu, e depois me enfiar em baixo das cobertas, sugeria. Ela concordou. “Vai lá que eu vou pegar uma outra roupa pra você”, ela quis ser amável. Insiste que não se preocupasse, que seria melhor eu por a mesma camisa, pra me manter aquecido. Ela disse “Você que sabe” e foi preparar um chá no fogão.
Entrei no chuveiro e liguei a água, deixando que caísse ruidosa sobre a minha cabeça, tentando esquecer do mundo e pensar numa solução. Só ouvia o som da água caindo na cabeça e escorrendo pelos ouvidos, pelo rosto. Só dei por mim quando ouvi o som da porta do box se abrindo e Beth entrando no chuveiro comigo. Nu. Desprotegido. À mostra. Ela se aproximou de mim, beijou o meu rosto, o meu pescoço, como se nada lá tivesse, e desceu devagar. “Sei de uma coisa que vai te fazer melhorar rapidinho”, ela disse.
Quando saí do banho, mal podia me olhar no espelho. Vergonha de mim mesmo. E ela tinha me aceitado de volta. Passei a mão pelo espelho embaçado para ver os meus olhos me recriminando e o meu pescoço sem marcas. Beth passou por trás de mim, enrolada em uma toalha. Me beijou a nuca e disse, “vem logo tomar o chá pra não esfriar”.
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Literatura - Prosa,
Rodrigo Oliveira
sexta-feira, 5 de junho de 2009
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